domingo, 12 de novembro de 2006

Com quantos paus?

Com quantos paus?

Quanto custa uma produtora de filmes pornôs


Fui solicitado a escrever para o Portal GLX sobre filmes pornôs gays, mas escrever apenas sobre as imagens produzidas pelos estúdios é, a meu ver, um tanto limitador porque, além do que vemos em cena, existem os bastidores. Por este motivo decidi escrever sobre os vídeos e também sobre as outras atividades que envolvem as produções. Esta primeira matéria é sobre a viabilidade do leitor abrir sua própria produtora e, talvez, ganhar algum dinheiro com essa atividade; uma idéia que pode ser um sucesso.

Não tenho uma produtora, conheço pouca gente do ramo de filmes pornôs gays, pouco sei como se formaram grandes produtoras como a Falcon, Bel Ami ou Titan, mas não sou tão ignorante que não seja capaz de dar um palptite. Baseado em outras produtoras que não fazem esse tipo de filme, tenho uma idéia aproximada de como elas funcionam e como estão faturando. Não há dúvida que existe um mercado, a prova é a quantidade de filmes vendidos e locados e o quanto esse material ocupa de espaço na internet e em outras mídias.

Nos últimos anos, com a escassez de empregos no mundo inteiro, mais e mais jovens são forçadas a se tornarem empreendedoras e abrir seu próprio negócio. Essa matéria não pretende ser a única orientadora sobre onde o leitor deve investir seu dinheiro, certamente há formas mais seguras de se fazer isso e o gerente de investimentos do banco da esquina poderá dar um palpite. Mas algum leitor mais ousado pode se dispor a correr maiores riscos e, conseqüentemente, conseguir lucros mais vantajosos que a bolsa de valores, abrindo a própria produtora de filmes pornôs gays. Montar sua própria produtora de vídeos pornôs é uma atividade para médios investidores com retorno a médio e longo prazo.

Há cerca de vinte anos atrás, quando os únicos filmes do gênero disponíveis nas locadoras eram americanos e europeus, um amigo francês estava interessado em fazer um investimento no Brasil e me perguntou em que ramo aplicar seu modesto capital. Sugeri, sem titubear, que abrisse uma produtora de filmes gays com equipe e atores brasileiros. Sabia que ele tinha tato para gerenciar o negócio e seu namorado, um mulato brasileiro, conhecido nos dois continentes pela lascívia, que havia estudado cinema numa das melhores escolas da França, poderia mostrar o que sabia na frente e atrás das câmeras. Até eu poderia colaborar com a equipe, mas dificilmente como ator. Meus dois amigos poderiam abrir uma empresa “tipo familiar” e, naquela época, explorar um mercado que as produtoras brasileiras só ocupariam posteriormente. Ele não levou muito a sério a minha sugestão, o relacionamento dele com o namorado também não durou muito e ele desistiu de qualquer negócio aqui. Desde então tenho a convicção de que uma produtora de filmes pornôs gays, no Brasil, pode ser um bom negócio, quiçá prazeroso.

Quem tivesse aberto uma produtora do gênero naquela época hoje estaria colhendo os lucros e as glórias de ser considerado um pioneiro, pois até os anos de 1980 não se produzia filmes pornôs gays no Brasil, considero que o primeiro longa metragem foi Tropical Heatwave (1988) dirigido pelo inglês Kristen Bjorn. Antes desse filme nossos poucos atores tinham que trabalhar fora. As circunstâncias que favoreciam a abertura de uma produtora naquela época existem até hoje (atores e técnicos a preços baixos, mercado em expansão) e com a projeção Brasil no mercado internacional a expectativa é que o interesse por filmes brasileiros permaneça e supere o sucesso alcançado pelas produtoras que surgiram nos últimos anos, como a Pau Brasil, Frenesi e Brazilian Boys.

Uma produtora de filmes gays não é diferente de uma que faça filmes educacionais ou esportivos. Funciona da mesma maneira podendo até produzir vários gêneros ao mesmo tempo, demonstrando versatilidade no atendimento da demanda. Consultei o sócio de uma produtora que me esclareceu sobre vários itens indispensáveis. Para fazer um trabalho profissional (depois pode até colocar o selo de filme amador), é bom abrir uma empresa. Quem observar e cumprir os trâmites legais, o investimento só para abertura é de aproximadamente R$ 1.300,00. Esse investimento cobrirá despesas com honorários do contador, alvará de funcionamento (licença de funcionamento junto a prefeitura da cidade), taxa de bombeiros e inspeção dos extintores, junta comercial. O tempo médio é de dois meses para abertura se todos os documentos estiverem regulares e as instalações apropriadas para o funcionamento. Empresa produtora de conteúdos audiovisuais não pode ser micro-empresa (faturamento menor que 120 mil reais/ano), então o ideal para quem vai abrir uma produtora é enquadra-la numa EPP (empresa pequeno porte), que permite um faturamento anual de até 1 milhão e duzentos mil reais.

Antes da compra do equipamento é muito importante que a empresa tenha definido o seu perfil junto ao mercado, seu foco de atuação (cinema, publicidade, televisão). A empresa produtora é uma empresa de prestação de serviços, o principal negócio dela é produção do serviço, a realização do produto. Se for uma produtora de filmes para cinema não é importante ter equipamentos, pois existem locadoras de equipamentos cinematográficos. No caso das produtoras de vídeo, os equipamentos digitais ficaram mais baratos e acessíveis. Para a produtora de vídeo é importante ter algum equipamento para captação e edição de imagem.

É possível encontrar câmeras digitais desde as versões Consumer (semi-profissionais, com excelentes resultados, por exemplo, Sony PD 170) até as versões Broadcasting (profissionais, por exemplo Sony DSR 570); computador Macintosh G4 ou G5, para a edição com o programa Final Cut instalado, máquina recorder DVCam, máquina recorder Betacam, monitor. Os preços de equipamentos podem ser consultados no site http://www.bhphotovideo.com/ sem fretes e impostos. No Brasil, com nota fiscal e legalidade, tudo isso fica bem mais caro. Com quantos paus? 80 mil, mais ou menos.

Tenha em mente que esse é um trabalho em equipe, precisa saber trabalhar em conjunto, saber ouvir e colaborar até com os que têm opinião contrária à sua. Procure ter um ou mais sócios no capital. Como é difícil encontrar alguém que entenda de tudo e com capacidade de cuidar de todas as tarefas relativas à produção de um filme, considere que a sociedade pode ser feita entre pessoas com diversas formações e aptidões; alguém que entenda de linguagem audiovisual, outro que entenda de técnicas de captação e edição de imagens/som, e alguém que entenda de finanças, negócios e comércio. O que todos os sócios devem estar de acordo é sobre o gênero que vão produzir e quais as obrigações e deveres de cada um, como serão repartidos os lucros e, temos de considerar, os prejuízos.

Quanto à pirataria, um flagrante desrespeito ao direito autoral que acontece no mundo todo e em todas as áreas de criação (ser criativo é mesmo difícil), o videoprodutor precisa desencanar para conviver com essa realidade fora de seu controle. A vantagem é saber que ser copiado significa que você está fazendo a coisa certa, que o seu produto está tão bom que até uma cópia do original tem valor. Se seu produto não for copiado desconfie, pode estar na hora de mudar. Preocupe-se com qualidade e estilo, isso dificilmente se copia. Tente crescer independente da pirataria, se conseguir um percentual entre 5% e 10% de crescimento ao ano já será muito. Seu contador avisará quando estiver entrando no vermelho.

A produtora vai precisar de um conjunto de sala, ante-sala, bwc e copa, com aproximadamente 35 m² para os equipamentos e para outras funções. O aluguel custa em torno de R$ 500,00 mensais mais taxas administrativas e de manutenção. Escolha um nome consoante com o estilo das produções. Pirarucu, Curupira, Banana da Terra são nomes válidos para uma produtora que apresente estilo tupiniquim (locação, atores, temas, músicas). Nomes em língua estrangeira também podem agradar o mercado. Sinta qual a tendência, aposte e espere o resultado, nunca é tarde para corrigir um erro de trajetória. Pesquise pra saber se o nome escolhido não está sendo usado por outra empresa, se não estiver, não custa caro e recomendo que registre o nome e a marca no Instituto de Nacional de Propriedade Industrial http://www.inpi.gov.br/ e o domínio na internet no site http://registro.br/.

Com a produtora montada faça os planos no papel antes de começar. Divida as etapas em Pré-produção, Produção e Pós-produção. Na Pré-produção forme a equipe e faça os orçamentos de forma bem realista. Cada produção tem o seu orçamento programado, não estoure! Escolha bem os atores. Não poupe um centavo se eles merecerem. Dê preferência aos que conseguem a proeza de ficar à vontade diante da câmera, pois manter uma ereção diante dos equipamentos e dos técnicos de forma convincente é difícil, repetir quando o diretor achar que não ficou bem, é coisa que só um bom profissional pode fazer, então dispense aquele sujeito que é apenas um bom amante, ele dificilmente será um ator com tantas qualidades. Na Produção é quando se capta as imagens e o som direto, em locações externas ou em internas (estúdio). As externas podem ser feitas em praticamente qualquer lugar, ao ar livre, dia ou noite; em estúdio as condições de trabalho são mais controladas (proteção contra sol, chuva, vento e curiosos). Uma equipe enxuta no set não se faz com pelo menos atores, operador de câmera, produtor e diretor.


Quando o som e a imagem tiverem sido captadas chegou a hora da Pós-produção (finalização). Muito da qualidade do filme depende da montagem, então é a hora de entrar um bom montador e alguém que faça a mixagem do som e insira os títulos. O plano de distribuição deve ser feito com cuidado para que o produto chegue aos consumidores. Possuir um esquema próprio de distribuição pode ser tentador, pois nessa fase é que se começa a ganhar dinheiro de verdade. Mas se não tiver experiência, talvez um distribuidor associado faça esse trabalho cobrando um percentual em torno de 30% do valor final do produto.

Os consumidores são motivados pelo preço, pela qualidade e pela origem do produto – nessa ordem. Sendo que a origem do produto pode interferir no preço e na qualidade. Se quisermos conquistar um mercado internacional temos de ter um produto com padrão internacional, dificilmente se consegue sem antes conquistar o mercado nacional. Meta difícil para quem estiver iniciando. Seja perseverante! Consumidores toleram deficiências técnicas do filme se tiver boas trepadas. Lembre de não economizar nenhum centavo com bons atores.

Não foi consultado o SEBRAE sobre cursos de capacitação, facilidades financeiras e outros estímulos. Talvez valha a pena visitar o site http://www.sebrae.com.br/ em busca de esclarecimento. Possivelmente deixei de mencionar algum item porventura necessário a algum caso específico, mas só o desenvolvimento do projeto poderá dizer o que é mesmo necessário a cada um. Essa é uma proposta geral e mínima para abrir sua própria produtora. O sucesso fará ela crescer naturalmente. Fará com que se consolide no Brasil uma cadeia produtiva do audiovisual destinado ao público adulto, como há nos Estados Unidos, Europa e Austrália, associada a outras mídias ao comércio, serviços de produtos e artigos eróticos, profissional e responsável.

Publicado em 01.02.2005 no Portal GLX

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