sexta-feira, 17 de novembro de 2006

O Abaporu deles

O Abaporu deles*

Argentino devorador de homens


Quando acabamos de ver Barebacking with Jeff Palmer-Volume 3: Gang Fucked temos a certeza de que o que era hard ficou harder. O filme não tem as mesuras nem as preliminares admitidas num hipotético Manual de Redação do Pornô porventura estabelecido pelos pioneiros dos anos de 1970 (Garganta Profunda e Atrás da Porta Verde, ambos de 1972; Diabo na Carne de Miss Jones, de 1973) que, embora sejam filmes pornô hetero, estabeleceram os parâmetros para os gêneros sucedâneos, de sexo explicito, autônomos e populares.


Segundo algumas fontes, Jeff Palmer, nasceu em Los Angeles, Califórnia (USA), em 1975, e seu nome de batismo é David Zuloaga. Pelo sobrenome, pode até ser descendente do pintor basco Ignácio Zuloaga. Outras fontes informam que ele nasceu na Argentina (o sotaque do argentino falando inglês é malvino), morou no Uruguai e no Brasil. Confirmada a origem portenha de Jeff, ele seria o Abaporu deles, o comedor de homens, e, como tal, o melhor comedor de homens do mundo - a humildade portenha não admite menos. Não é um novato e talvez dispense apresentação.

Com pouco mais de 30 anos, a biografia de Jeff ainda esta sendo escrita e com as tintas mais fortes da paróquia de São Telmo. Ele é, sem duvida, um dos maiores astros pornôs de todos os tempos, tendo passado pela mitológica produtora Falcon e pela Chi Chi LaRue. Barebacking with Jeff Palmer-Volume 3 é da produtora SX Video, onde ele fez outros os volumes 1 e 2 da série e outros títulos já reunidos em Jeff Palmer Collection 1 e 2. O site dele informa que o rapaz já está procurando outra produtora para fazer o próximo filme. Alguma interessada?

Cantor e compositor, já lançou seis CD´s com músicas que podem ser ouvidas no website do astro, mas não recomendo. O negócio dele não é cantar, é atuar, comprove em filmes feitos em outros momentos da carreira de Jeff, de uma versatilidade impressionante, um camaleão: top, versatile & botton! Ator principal de deste Volume 3, filme cuja a extrema crueza não faz dele uma barbárie completa. Neste filme ainda é possível identificar a presença dos elementos protocolares da narração dramática clássica, como introdução, desenvolvimento e epílogo; há um fiapo de narrativa, mínimo que seja, cujo protagonista é nada mais nada menos que o cu de Jeff (não depilado) que vai dilatando, dilatando, dilatando... Minimalista apoteótico, no final o cu acaba tão inchado que adquire o aspecto beiçola de uma mulata retratada por Di Cavalcanti. Dizem que o figurativismo latino-americano anda em alta, Jeff aproveita a onda e assegura um lugar nos anais ampliados da história da arte.

Filmes barebacking despertam polêmicas e ojerizas nas platéias que, espero, já terem sido superadas anos atrás, pois não dá para discutir agora sobre sexo seguro. Bare já tornou-se um gênero com subgêneros e em Barebacking with Jeff Palmer-Volume 3: Gang Fucked ele atinge o grau de dureza dos diamantes. As imagens podem ter sido registradas num único expediente, a produção é mínima, mas o efeito é máximo, bem como os lucros que, suponho, o filme esteja dando para a SX Video, apesar da pirataria.

O cenário é enxuto, neutro: a ação se desenrola um canto de 90 graus com piso e paredes pintados de negro. Como mobiliário há apenas um puff, na linha do less is more e bigger is better. As falas são mínimas, uma frase é respondida por um gesto, um urro, um imprecação, sem perder o sentido. Não há trilha sonora, o áudio é o som captado no estúdio, apenas. A câmera de Baird é tão econômica e seca que parece carecer de ousadia e criatividade, ledo engano, o que o diretor não quer é competir como a ação, Jeff faz o espetáculo e o resto da equipe o segue, reencontramos o passivo hiperativo como protagonista, um tipo que andava sumido desde que Joe Stefano encerrou carreira precocemente, em 1994. Se figurino já era um item descartável nos pornôs, em Barebacking with Jeff Palmer-Volume 3 ele usa apenas um jock strap durante o filme inteiro e os outros atores não usam tanto. Uma tatuagem, um piercing, um bracelete, um colar de miçanga, uma bandana, é tudo pra cobrir o corpo inteiro. Excesso só de sexo.

Neste filme ele é exclusivamente botton e já começa sendo enrrabado pelo ruivo dotado Jasper Collins, sem nenhuma preliminar! Na primeira parte ele dá pra quatro brancos com apoteóticas gozadas na boca que Jeff só deixa desperdiçar algumas gotas que fazem belos efeitos de maquiagem pale white. No fim dessa introdução Jeff agradece o empenho dos rapazes e já pede que venham os negros. Essa é a segunda parte, com quatro criôlos, entre eles o bombado famoso Flex Deon Blake que faz com KanRun dupla penetração em Jeff. Os urros de Jeff convencem e desencorajam os estreitos, recomendo o leitor baixar o volume ou usar earphone pra não perturbar a vizinhança.

Com um “bring on the brown guys” começa a terceira parte, dos fudedores world, quem vem tinindo é Brian Le, pequeno, malhado e, contradizendo a lenda de que orientais tem pau pequeno, o pau de Le é médio! Ele é um fudedor enérgico que demonstra gostar muito do oficio e do orifício. As etnias exóticas não ficam de fora, contei cinco diferentes penetrando Jeff, as ejaculações são de matar afogado um astro menos experiente, mas Jeff com todo profissionalismo de tantos filmes no mercado apenas borbulha como um copo de Alka Seltzer.

Filmes pornô são aqueles que contar o final não provoca a ira de quem ainda não assistiu porque raramente eles reservam alguma surpresa. Mas Barebacking with Jeff Palmer-Volume 3 reserva um The End compensador. Depois de tanta foda Jeff, enfim, goza pifiamente, como talvez venha ser o modelo para os botton role depois desse filme, e não desperdiça nem uma gota. Depois, com os braços levantados, vibrando como um jogador de futebol argentino que tivesse sido campeão do mundo Jeff grita, por fim: “I survived!”.



Mickey Boardman já comparou Jeff Palmer a Joan Crawford dentro da mitologia clássica hollywoodiana, evidentemente fazendo as devidas ressalvas, mas a mitologia dos pornôs gays brasileiro e argentino, na América do Sul, é outra, com outros bichos. Nessa selva, a antropofagia já não se faz como na época do Bispo Sardinha, é metafórica. Se comparados ao hermano Zuloaga, o argentino devorador de homens, os atores brasileiros ficam em franca desvantagem. Com Jeff a Argentina tem os dois Abaporus. Parabéns pra eles!

* O Abaporu nosso é um óleo sobre tela de Tarsila do Amaral pintado em 1928, de suma importância no panorama cultural modernista do Brasil. O título em tupi-guarani dado por Oswald significa "devorador de homem" - serviu como inspiração e como síntese do Manifesto Antropófago criado por ele próprio no mesmo ano. A tela, adquirida por Eduardo Constantini, em 1995, encontra-se exposta no Malba – Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires. Depois que essa matéria havia sido publicada no Portal GLX li a biografia de Jeff Palmer que esclarece que o ator nasceu em Los Angeles (EUA) e aos dois anos de idade foi viver em Mendoza (AR). É, pois, tão Argentino quanto Carlos Gardel (nascido na França) e Julio Cortázar (nascido na Bélgica).


Barebacking with Jeff Palmer Volume 3: Gang Fucked
Produtora: SX Vídeo
Ano: 2005
Direção Ben Baird
Duração: 60 minutos


Publicado em 10.09.2006 no Portal GLX

Um comentário:

  1. Anônimo3:50 PM

    Bom ME CHAMO RAMON ,TENHO 21 ANOS E MEU SONHO É ATUAR EM UM FILME PORNO GAY,
    rauan_18@hotmail.com

    cel:073 9971 4590

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