domingo, 12 de abril de 2009

GayVN Awards 2009

GayVN Awards 2009
Os vencedores da 11ª edição

Foi divulgado no último sábado, dia 28 de março, no Castro Theatre, em San Francisco, Califórnia, EUA, os vencedores do GayVN Awards 2009. O GayVN Awards é promovido pela AVN Magazine e faz parte do mesmo grupo editorial que publica a GayVN Magazine, o AVN Media Network. Entre 1986 e 1998 a premiação dos filmes pornôs gays acontecia dentro da programação geral AVN Awards, mas a partir 1999 estes filmes passaram a ter autonomia para celebrar seus próprios feitos. Este ano eles realizaram sua 11ª edição. A lista completa dos premiados está no link ao final desta matéria.

As indicações e os prêmios oferecidos a uma poção de produtoras de filmes pornôs gays, ávidas por vendas, concedidos por um grupo editorial fundado sob os ditames do mercado e com o objetivo de standardizar a produção, têm critérios altamente questionáveis. A existência de tal premiação não deve desestimular a platéia de fazer seu próprio julgamento, pelo contrário, deve fazê-lo tendo em vista a preferência pessoal e outros critérios que não sejam os interesses que movem essa mídia. Há nessa e em muitas outras premiações uma concentração de poder nas mãos de quem as promove que não pode ser desprezada: os que executam (produzem e comercializam os filmes) também são os que legislam (fazem as regras) e os que julgam (concedem as láureas).

No GayVN Awards 2009 houve de tudo um pouco. Algumas premiações foram justas e até previsíveis. Houve também o contrário, as injustas e as surpresas, enquanto algumas premiações, pelos motivos mais diversos, nem merecem comentários. Previsíveis também foram as banalidades da cerimônia como, por exemplo, o tema desportivo, que tem pouca relação com sexo e que parecia ressaca da olimpíada de Pequim. Os mestres de cerimônia Margaret Cho, Janice Dickinson e Alec Mapa tudo fizeram para animar um teatro lotado de convidados que parecia estar interessado em receber os prêmios e ir logo paras as animadas festas nas boates e inferninhos de San Francisco. Anualmente ingressa uma numerosa turma no Hall da Fama do Pornô Gay, este ano o lendário diretor Gino Colbert entronou a produtora Dink Flamingo, os atores Michael Lucas, TJ Paris, Dean Phoenix, Jack Simmons, Phil St. John e Chris Steele, desnecessário, pois todos eles já eram famosos antes de serem admitidos nesse Hall.

Ralph Woods recebeu o prêmio de Melhor Ator – Produção Estrangeira, pelo filme French Kiss da Bel Ami. Woods é um magrelo atraente, versátil, canadense de pouca idade e muita pica (22 anos e mais de 22 cm, as proporções áureas masculinas). É casado com o também ator pornô gay Pierre Fitch com quem contracena em alguns filmes e agora em produções próprias. Começou a filmar em 2006 para a Falcon e depois para a Bel Ami, onde já havia feito Some Like It Big, XL Files 6 e The Private Life of Josh Elliot. Muitos anos depois de mostrar Chance fazendo turismo sexual em An American In Prague (1997), a Bel Ami e o diretor George Duroy colocaram um canadense francófono para fazer o mesmo. O título não se deve apenas pela presença de Woods, mas também por French Kiss significar fellatio em inglês. Concorriam com Ralph Woods na mesma categoria, com pouca chance mas com a torcida brasileira favorável, os atores Rick Garcia por Rio (AMG Brasil), o argentino Tommy Lima, por Tommy Lima In Brazil: On the Beach (Alexander Pictures) e Miguel Torres em No Rest in This Room (Alexander Pictures), o resultado confirmou a expectativa.

Brent Corrigan recebeu o prêmio de Melhor Passivo pelo conjunto da obra e não por um filme específico. Embora algumas vezes faça papel de ativo, foi premiado por aquilo que sabe fazer melhor, dar a bunda. No GayVN 2009 ele concorreu em mais oito categorias (Melhor Cena Oral, Performer do Ano, Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Filme Profissional/Amador, Melhor Filme de Lolito, Melhor Cena Grupal, Melhor Cena – Dupla). Corrigan caiu no gosto popular pelos seus dotes naturais, pela semelhança física com Zac Efron, pelos filmes bareback que fez no estúdio Cobra e devido à suspeita, amplamente divulgada, e logo desfeita, de que ele estaria envolvido no assassinato de Brian Phillips, o dono do estúdio, com quem tinha uma querela jurídica. Filmou na Falcon, agora está na Dink Flamingo atuando e até dirigiu um filme chamado Brent Corrigan´s Summit. Começou a carreira ainda menor de idade e hoje, aos 22 anos, já é um dos atores mais bem sucedidos da gayláxia – prova de que é de pequeno que a coisa cresce.

Barrett Long recebeu o prêmio de Melhor cena de gozada por todas aquelas que deu em XXX Amateur Hour Volume 6 (Dirty Bird Pictures). Long tirou o prêmio mais pela quantidade do que pela qualidade das gozadas. Concorrendo com ele na mesma categoria estavam dois páreos duros: o paraibano Rafael Alencar que fez Pounding the Pavement (Lucas Entertainment) e o italiano Francesco D'Macho, que fez Verboten 2 (Hot House Entertainment). Barrett Long é um ator com longa experiência e pica idem. Contudo sua atuação é irregular e seu vigor físico não resiste a um exame mais acurado. Long concorreu em mais quatro categorias (Melhor Ativo, Performer do Ano e Melhor Performer da Web) com alguma chance nesta última, mas entenderam que conceder-lhe duas láureas seria demais e esse prêmio foi entregue ao novato, gatíssimo, sarado e versátil Leo Giamani, que se diz ex-bombeiro de Nova York, é descendente de italianos e já fez filmes bareback, inclusive para a Macho Fucker. Ele pode ser visto online no Jake Cruise, Mighty Men, Randy Blue, CockSureMen, em novos filmes da Falcon, Titan Media e também em campanhas publicitárias.

Outro gatíssimo que fez jus ao prêmio recebido foi Logan McCree, escolhido Performer do Ano. Um prêmio esperado desde que esse fauno alemão estreou no filme Ink Storm, em 2007. De lá para cá fez mais sete filmes no estúdio Raging Stallion, entre eles To The last Men, e apareceu em ensaios fotográficos para revistas (Honcho, junho/2008) mostrando muito trabalho e um corpo maravilhosamente tatuado e atlético. Sexualmente versátil, McCree possui uma atuação surpreendente, incomum e que confere um ar mais leve aos filmes leather que é a especialidade da Raging Stallion.

Rick Sinz, seu colega de produtora e com quem compartilha algumas semelhanças, recebeu os prêmios de Melhor Ator e Melhor Ator Ativo, cofirmando uma estética física e uma forma de interpretação que agrada os jurados, a crítica e o público. McCree e Sinz são atores que impressionam pelo estilo e pelo desempenho, não pelo tamanho do pau.

O prêmio de Melhor Filme Alternativo foi para Wrangler: Anatomy of an Icon (Automat Pictures), um documentário dirigido por Jeffrey Schwarz sobre a vida do ator, produtor e diretor John Robert Stillman (1946-2009), mais conhecido como Jack Wrangler, que faleceu no último dia 07/04, aos 62 anos, de câncer no pulmão, como o homem do Marlboro que ele encarnou. Menino prodígio, Wrangler estrelou na televisão aos nove anos de idade. Em 1970 fez o primeiro filme pornô gay da carreira e um dos primeiros filmes comerciais do gênero, Eyes of a Gay Stranger (Magnum Studios), dirigido pelos desconhecidos Fred Clay e Abe Rich. Sua carreira decolou quando fez Kansas City Trucking Co. (His Video, 1976), dirigido por Tim Kincaid. Wrangler atuou em muitos filmes pornôs gays, trabalhando com grandes diretores como Jack Deveau e Tom DeSimone. Em 1979 dirigiu seu único filme, Jocks. Com tal desempenho, Wrangler tinha orgulho de se auto-afirmar como autêntico astro e ter seu nome em destaque sobre o título de muitos dos filmes que atuou, nome este que tomara de empréstimo de uma marca de jeans popular naquela época. Também foi o primeiro ator pornô gay a fazer filmes pornôs hetero e de outros gêneros com relativo sucesso. Wrangler: Anatomy of an Icon revela tudo aquilo que Wrangler foi no seu tempo: hiper-masculino, enigmático, inteligente, versátil, pioneiro, bem-nascido nas cercanias de Hollywood onde seus pais trabalhavam. Estava escrito que algum dia ele seria um astro, e foi no melhor estilo.

Outro veterano, lembrado na premiação do por GayVN Awards 2009 pelo seu papel pioneiro, movido por uma mistura de subversão cultural e liberação política, foi o diretor veterano Roger Earl, que recebeu, com merecida pompa, o Lifetime Achievement Award. Earl fez cerca de vinte filmes, alguns deles S&M para diversas produtoras, principalmente para a Marathon, nos anos de 1970-1980. Entre eles Born to Raise Hell (Psycho Films 1975), Gayracula (His Vídeo, 1983), Chain Reaction (Marathon Films, 1984) e Men With No Name (Marathon Films, 1989). Earl é um diretor cujos filmes rapidamente tornaram-se demodée, caindo num esquecimento injustificado. Este prêmio é um refresco na memória para que sua obra seja revista com as luzes do século 21.

A série Black Balled já está no volume 6, com o filme Under the Hood (All Worlds). Quem já conhece a série sabe do que se trata: gang-bang. Desta vez o filme dirigido por Chi Chi LaRue recebeu o prêmio de Melhor Filme Étnico. Estaria melhor enquadrado na categoria multi-etnico, porque há um branquelo sortudo, novato, chamado Dylan Saunders, chupando e dando para oito negões maravilhosos (Christopher Ashlee, Eddie Diaz, Aarin Driver, Derek Reynolds, Scott Alexander, Aron Ridge, Markus Ram, Ian Rock) dentro de uma oficina mecânica. Fica justificado o sorriso dele na capa. O filme é um abuso da capacidade de tubagem de um mesmo passivo. Ter ganho foi uma surpresa, porque filmes como Bling (Real Urban Men), Da Hating Game (Pitbull Productions) e Snow Ballerz (Flava Works), exclusivamente com negros, tinham mais chance. Pesou na decisão a tonelagem do diretor drag Chi Chi LaRue, que também levou o prêmio Trailblazer Award pela longeva carreira.

Italians and Other Strangers de Lucas Kazan, levou o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro sem que sequer seja o melhor filme desse diretor. Está longe da qualidade de filmes anteriores, como The School for Lovers (2006) que levou o mesmo prêmio em 2007, Decameron (2005) e L’Elisier D’Amore (2002). Mas não era isso que estava em jogo, neste resultado se percebe a tendência do júri em lotear os prêmios. Italians and Other Strangers concorreu em várias outras categorias e teria sido justo não mais que um prêmio ou dois numa categoria técnica. Lucas Kazan Productions é um estúdio fundado em 1998 na Itália já com muitos sucessos no currículo resultante do “modo latino de fazer” que guarda certa filiação estética com os filmes de Kristen Bjorn. Na prática eles são colaboradores na Sarava Productions. Estão presentes algumas características recorrentes na obra de Kazan, como as locações, a trilha sonora e a edição musical. O filme tem um narrador, Bruno Boni, ator que concorreu à categoria Melhor Ator – Filme estrangeiro. Entre uma cena de sexo e outra Boni se ocupa de exemplificar os tipos de gays que existem na Itália e no mundo. O tipo que parece mais ridículo de todos, como sempre, é o hétero que nem desconfia que é gay, interpretado por Marc Dievo. Nessa categoria estavam concorrendo filmes das produtoras AMG Brasil, Falcon International, Titan Media, Lucas Entertainment, entre outras. Fica aqui esclarecido que os critérios que definem o que são "filmes estrangeiros" no GayVN se devem muito mais à locação do que à produtora.

Um prêmio facilmente questionável foi concedido ao filme Return to Fire Island (Lucas Entertainment) na categoria Melhor Embalagem e comprova que a inovação não garante reconhecimento. O filme Suruba: Azul (AMG Brasil), também explorando o tema água (praia e piscina), possui um design superior e faz parte de um trabalho artístico que envolve fotografia e design como um todo. Geralmente as capas de filmes, de qualquer gênero, são desnecessariamente poluídas e confusas. Nesta categoria não houve exceção a não ser por Suruba: Azul. A concepção ousada deu ênfase a um único elemento, o corpo do ator Lucas Lucky, e deixou que a expressão dos vários tons de azul e da tipografia transmitisse a mensagem com clareza e sutileza. A AMG Brasil tem desenvolvido produtos com criatividade e qualidade inéditas neste país. No GayVN 2009 eles fizeram uma campanha que lhes valeu doze indicações por três filmes (Rio, Carnaval e Suruba: Azul), não levaram nenhuma mas chamaram a atenção dos mais atentos para a bossa que há neles.

No Brasil criou-se uma certa expectativa a respeito dessa edição do GayVN porque havia uma presença nunca vista antes de atores brasileiros concorrendo e das produtoras estrangeiras que os empregam. A presença foi forte na categoria Melhor Filme com Temática Étnica – Latino. Concorreram Bathhouse Exxxtasy (Alexander Pictures), Rio e Carnaval (AMG Brasil), Tommy Lima in Brazil: In the jungle e No rest in this room (Alexander Pictures). Quem levou o prêmio foi Roman's Holiday (Falcon), cujas qualidades estão apenas no desempenho do elenco (com ação em Buenos Aires e elenco argentino-brasileiro), do protagonista Roman Heart, e não no filme.

Diga-se de passagem, que a poderosa Falcon teve nesse ano um desempenho muito fraco na indicação e conquista de prêmios, tendo recebido apenas mais um, Melhor DVD de Filme Clássico, por Best of the 1970s, um filme que é testemunha de um passado em que a produtora ainda nem existia, pois começou a produzir em 1982 com o filme Huge, dirigido por Matt Sterling.

Na categoria Melhor Ator Estreante quem levou o prêmio foi o nem tão novato assim Jackson Wild. Nesta categoria foi percebida pelos pornófilos brasileiros a argentinos a ausência do ator Marco Blaze. Muito popular, Blaze foi escolhido no ano passado pelo público do blog Mister Man como o Homem do Ano. Dylan Saunders, o sortudo passivo de Black Balled 6 também não foi indicado. Os irmãos trigêmeos Visconti eram também estreantes favoritos que acabaram chupando pirulito.

Finalmente a produtora que mais recebeu indicações e o seu filme arrasa-quarteirão. A Raging Stallion bateu o recorde de indicações e To the Last Man foi o filme que mais recebeu prêmios, um total impressionante de 16, entre eles Melhor Filme e Melhor Direção, concedidos para o trio desencontrado formado por Chris Ward, Ben Leon e Tony Dimarco, este último ainda ganhou o prêmio de Melhor Roteiro. Aqui está toda a evidência do poder da mídia e do mercado na decisão porque To the Last Man não faz jus a tantas láureas. É um filme longo que não trouxe nada de relevante nem minimante inovador, comercializado em duas partes principais, sem contar os bônus, extras e tudo o mais que inventaram para torná-lo ainda maior em vez de encurtá-lo. A primeira parte, The Gathering Storm tem mais de 3 horas de duração e nela são mostrados os ranchos The Double K e The Flying V. Nesses ranchos trabalham caipiras que na segunda parte, Guns Blazing, com 2 horas e meia de duração, se envolvem numa matança até só sobrar um único vivo. Chato, inadequado, umas boas e raras cenas de sexo não compensam a obra como um todo. Os prêmios merecidos são ofuscados por aqueles que só podem ter sido resultado de puro jabaculê. Fica a estranha sensação de que na estandardização do filme pornô gay, promovida pela indústria, a ética deles permita álcool, tabaco, violência, armas e trabalho semi-escravo que é o que se entende pela legenda que informa que os atores são "Raging Stallion Exclusive". Eles bem merecem os benefícios da lei do passe livre. E a platéia não merece ver "vinganças tenebrosas e cadáveres a granel".

A próxima grande premiação da indústria pornô gay norte-americana será no dia 23 de maio com a entrega, em Chicago, do Grabby 2009 Erotic Video Awards.

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