O pornô gay reafirma, novamente, a tradição de ser pródigo em inversões que causam surpresas. Neles, amiúde, a dor se transforma em prazer. Em Justice, comentado aqui em matéria publicada em 10/11, era penitência que se transformava em prazer, em The Intern (2007) é o trabalho quem faz essa inversão.
Quem tem queda por subalternos é um sedutor que não se arrisca. Eles são um alvo fácil demais na guerra de sedução, é batata! Deles raramente se recebe um não. Mesmo para o maior pé-rapado da paróquia sempre há alguém que se submeta, compulsoriamente ou por predileção. O própria vida organiza-se de modo que o sexo subordine os outros prazeres a papéis inferiores; o ato sexual envolve dominação onde o dominado nem sempre faz o papel passivo. O personagem que protagoniza essa fita é um noviço que faz o delicioso gênero ativo submisso.
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Produzido por Lucas Entertainment, um estúdio que está a poucos anos no mercado e já pode ser considerado queridinho da vez no jet set de Pornwood. O estúdio não pára de abocanhar prêmios e lançar nomes ao estrelato. Dangerous Liaisons (2005), vencedor do GayVN 2006 em 4 categorias, e La Dolce Vita (2006), vencedor do GayVN 2007 em 14 categorias, são exemplares do sucesso alcançado, o resto é conseqüência.
Sua maior estrela também é seu mais profícuo diretor, fundador e lhe empresta o nome: Michael Lucas (seu nome verdadeiro é Andrei Treivas Bregma), 35 anos, judeu russo. Parece salutar não nascer nos Estados Unidos e migrar para lá com uma cultura que não seja o american way of live. Como Irving Berlin, Lucas também é um cossaco, Berlin nasceu ainda na Rússia czariasta, Lucas na neoczarista. Estudou advocacia e debandou para o ocidente assim que pôde. Primeiro para a Alemanha, depois para a França e, finalmente, para os Estados Unidos, onde fez carreira de modelo e montou a produtora em 1998 na cidade de Nova York. Antes, como ator, fez filmes para a Films Cadinot (como Ramzes Kairoff), do veterano francês Jean-Daniel Cadinot e para a Falcon Studios. O primeiro filme da Lucas Entertainment foi Back in the Saddle, lançado em 1999.
Em imagem e conteúdo, Michael Lucas é a aparição mais interessante do pornô gay desde que Peter Berlin armou a ponte entre as ruas e as telas, tornando ainda mais tênue a fronteira entre representação e realidade. Celebridade íntimo de celebridades, é um oportunista pop comparável a Andy Warhol. Homem de negócios, lançou a réplica de seu próprio pênis, em borracha, para os menos célebres meterem no cu pagando US$ 69,95. A menos que se considere que em Nova York o programa com um astro pornô custa em torno de US$ 500,00, esse consolo tá caro. Fazer na China uma réplica de uma pica média não consome tanta borracha, neste valor deve estar embutido royalties pelo pau de um ativo (pelo menos nas telas) bem sucedido.
Os atores dos filmes da Lucas Entertainment, não são nem do tipo “bomdadão” nem o tipo “lolito”, são homens de aspecto tão delicioso quanto aquele vizinho ordinário, Lucas é um exemplo, seu físico é de um modelo vigoroso entrando nos anos. Os filmes quase sempre retratam o mundo fashion, e nesse aspecto há reciprocidade. São os filmes menos underground que o pornô gay já produziu e, se calhar o rótulo de pornô chic, pode-se dizer que eles alcançaram um público como nunca ocorreu antes, tendo, inclusive, influenciado outras produtoras no mercado há mais tempo. Vale acrescentar que a direção comete transgressões moderadas ao fazer um filme que apresenta sexo anal seguro mas com esporradas na boca que não deixam nada a desejar aos filmes bareback mais leitosos. Essas cenas são verificadas tanto nos filmes dirigidos por DiMarco quanto nos dirigidos por Michael Lucas.
The Intern é uma comédia que trata da descoberta acidental de um astro para o pornô gay. Astros pornôs podem estar em qualquer lugar, não se espante se houver um dentro de você. É o melhor pornô cômico desde Hole Milk (Cre8tive Juices, 2005) o primeiro episódio da série de sete intitulada Storm Chronicles que exibiu a vida real do astro pornô gay Sean Storm. A diferença entre os roteiros é que a parte mais hilária em The Intern fica com os personagens não-sexuais de Clarence, o recepcionista, interpretado por Joe Shepard e da aparição fortuita de um fluffer velho e sonolento que é nada mais nada menos que Robert W. Richards, o ilustrador e artista plástico americano, usando seus característicos óculos de aro grosso. Em Storm Chronicles a graça está no próprio protagonista, Sean Storm, que dá como se fosse uma donzela no dia do fim do mundo e ainda faz piada.
Dirigido por Tony DiMarco, o segundo homem da produtora, The Intern retrata o clima blasé de Nova York que os estúdios da Costa Oeste, da Flórida e alhures não têm como oferecer a não ser em versão falsiê. Uma grande metrópole, com imagens cujos significados individuais são os que se queira dar, enche o filme de realismo, urbanidade e tudo mais que uma cidade representa, sobretudo abundância de sexo. Mas estranhamente é um filme sem surubas. Há duas cenas bônus, a primeira com Ray Star e Christian Cruz fazendo hora extra no escritório. A segunda é no toalete masculino, com Michael Lucas e Zack Randall, com muito mijo e pouco siso.
Ben Andrews é a rola camarada da história e uma réplica dela, em borracha, também está à venda, tamanho único, quase idêntico ao original, para quem quiser meter no cu durante o filme e se sentir parte do elenco. Custa o mesmo preço da réplica da pica de Michael Lucas, na dúvida leve os dois e faça a suruba que o filme não tem, com DP. Com 22 anos, Ben e seu pau são novos nas telinhas. Prata da casa, começou a carreira em 2006 com Audictions 10. Depois foi visto em Audictions 12, Cruising Budapest 2, Encounters – Flash Point, The Bigger The Better e em La Dolce Vita Part 1 desfilando e levando uma chupada rápida nos bastidores de um desfile de moda. Nascido com cara de paspalho, a caracterização com óculos de aro grosso, como se fosse um arquiteto modernista, acentuou essa paspalhice nata para ele interpretar Benny, o estagiário.
Michael Lucas, também produtor do filme, faz o papel de si mesmo com outro nome, Alexander Mann, portanto faz pouco ou nenhum esforço para interpretar. Prêt-à-porter como os acessórios sexuais que trazem a marca da produtora, Lucas sabe posar e a atuação é o que aprendeu no trottoir. Com sua idade anda precisando de manutenção para poder contracenar com rapazes dez anos mais jovens. Correu a fofoca de que ele aplica alguma substância na pele para rejuvenescer. De fato, seus lábios parecem inchados além da conta. Ele negou veementemente os comentários e publicou, em seguida, uma foto de quando era garoto e os lábios já tinham aspecto muito mais próximo das quengas do congo do que de um judeu russo. É ele mesmo quem cria factóides para promover seus filmes, foi assim com Gigolo (2007), quando seu próprio blog divulgou uma cena criminal como se fosse foto de inquérito policial verdadeiro em que ele aparecia morto. Um golpe sensasionalista de publicidade mórbida em cima do caso recente de Brian Kocis, o diretor pornô gay assassinado em janeiro desse ano.
A primeira cena de Michael Lucas em The Intern é com Christian Cruz, o assistente índio pueblo, lindinho, aplicando-lhe uma seringa de qualquer coisa (botox? ácido hialurônico?) no rosto. Lucas é o único de Pornwood a olhar para si mesmo com sincera ironia e sem falsa modéstia, consolidando, assim, sua personalidade auto-indulgente, controversa, polêmica, neowhat. Fotos dele estão espalhadas nas paredes do cenário como propaganda eleitoral. Quem sabe, enquanto esta matéria está sendo escrita, ele já não as colocou num billboard em Times Square?
O enredo de The Intern é: a produtora Trojan Studios precisa de mais uma grande pica para o próximo filme, de preferência inédita. “Grandes picas significam grandes vendas”, diz Alexander Mann com indisfarçável sotaque. Essa frase pode ser considerada irônica ou excessivamente capitalista ao reduzir todos os valores ancestrais, imateriais e incomensuráveis do falo a apenas a seu valor de troca-troca. Seja como for, não deixa de ser verdadeira. Ele e o assistente estão fazendo seleção de candidatos a ator e ao mesmo tempo precisam de um estagiário para as tarefas comezinhas, Ben candidata-se à vaga. Debalde os esforços dos dois, picas grandes são difíceis de encontrar e o assistente se encarrega da tarefa sem saber que Ben tem a pica que faltava no elenco.
A primeira cena de sexo é no set de filmagens, com Alexander Mann dirigindo uma furança entre Jonathan Vargas e Jason Ridge. Benny, com toda falta de profissionalismo de um debutante no métier, sofre uma paudurescência instantânea. Cruz percebe o volume dentro das calças do estagiário e desconfia que ali tenha coisa.
Na seqüência seguinte Jimmy Trips e Zack Randall estão no depósito da Trojan Studios trabalhando e falando sobre mulheres e bucetas. Jimmy tem o tipo de pau de matar gato, mas Zack tem sete vidas e uma delas é deixada em cima duma mesa com algumas pregas que se esvaíram. Uma performance memorável. Excessivamente machos, acabam dando uma trepada testosterônica. Com héteros desse tipo vai se tornar comum encontrar ex-gay no mundo.
O Trojan Studios recebe uma encomenda do tamanho de uma geladeira, é um dildo, desumano, portanto imprestável comercialmente. Bem comercial é o entregador (Matt Cole), que confessa logo que tem vontade de ser ator pornô gay e mudar de emprego. Aproveita a ocasião para fazer um teste com Alexander Mann. Quem estava esperando encontrar uma grande pica inesperadamente encontra uma grande bunda que vale muitos pontos de audiência. Diferente de Ben Andrews, Cole não é prata da casa e está a mais tempo nas telinhas, entretanto tem a bunda mais gostosa do filme, mais rechonchuda que suas bochechas, lembram as de Quico "gentalha", mas a semelhança com o personagem da série mexicana não pára aí, lhe vestiram uma farda, que embora não seja de marinheiro, tem calças curtas que completam o aspecto patusco (há nessa cena um erro de continuidade no figurino). Ainda como Quico, seus dotes para negociar vantagens que só ele vê são prosaicas: acerta, em cima da mesa do produtor, os termos do contrato com a pica de Alexander atoladinha.
Cruz avisa a Alexander que Benny parece ser o que eles estavam procurando, mas por falta de certeza ele arma uma cilada para averiguar. “Acidentalmente” derrama água em Benny a pretexto de tirar-lhe a calça e colocá-la a secar. O que ele encontra no meio daquelas pernas é uma ferramenta grande demais para o cuzinho de um índio pueblo. Para um bom efeito visual é importante a economia de meios de um diretor experiente que coloca o grande no pequeno para que o grande pareça gigante e o pequeno pareça herói. Criatividade substitui, com vantagem, efeitos digitais que o pornô repudia. O "Princípio da Incerteza", de Werner Heinsenberg, afirma que qualquer tentativa de medir algo terá o efeito de imediatamente alterar aquilo que está sendo medido, assim sendo, para fazer um pau grande parecer diminuto sente em cima dele - ele desaparecerá completamente! Ben Andrews comprova Heinsenberg com seu pau acima da média, volumoso que desaparece no cu de Cruz, cujos atributos físicos poucos versos indianistas poderiam descrever. A ereção de Ben é típica de homens que têm paus com muita circunferência, esses tipos precisam ter dois corações para encher aquilo tudo de sangue até perder o aspecto de travesseiro. Seu pau é exatamente o oposto do pau de Michael Lucas, menos volumoso e perfeitamente rijo; paus diferentes, papéis idem, enquanto o primeiro faz o noviço ativo submisso, o segundo faz o provecto ativo submetedor. Os dois não fazem nenhuma cena de sexo, será que dois ativos não têm mesmo nenhuma chance? Depois dessa grande descoberta o estagiário Benny é promovido para fazer um filme. Subindo na vida sem os óculos, transforma-se como Betty a Feia, que não possuía nenhum atributo que a tornasse atraente. Sem a roupa Benny também não possui muitos atributos físicos, seu corpo é o de um pós-adolescente, característica que concentra o interesse da câmera apenas no seu pau e, algumas vezes, no seu rosto, fofos. Na última seqüência ele contracena com Derrick Hanson diante de uma equipe técnica que, vendo a benga do rapaz, faz a mesma cara de espanto de quem viu Les Demoiselles d'Avignon de Pablo Picasso em 1907. Para acentuar a importância do sentido da visão nesta fita cômica, o cenógrafo colocou na parede uma imagem de dezenas de olhos.
Aspirantes ao estrelato que estejam lendo essa matéria fiquem atentos, pois nem o pau de Ben Andrews nem o de Michael Lucas são definitivos. Nesse filme, o pau que cupim não rói é o de Jimmy Trips. The Intern é uma ficção hiper-realista, Lucas Entertainment e todos os estúdios do mundo têm, permanentemente, vagas para grandes e grossos talentos. Felizmente não é possível fazer filmes apenas com ativos e não se anunciam vagas para passivos porque, aplicando a "Conjectura do Donut" de Henri Poincaré ao caso, conclui-se que bundas são as vagas.
Este blog analisa filmes pornôs gays e todas as atividades relativas a eles. O conteúdo aqui publicado discute e opina sobre questões de sexualidade, principalmente homossexual. Os termos utilizados podem ser considerados chulos, entretanto são os mais apropriados para tornar claras as idéias do autor, como preconizou Charles Sanders Peirce.
Autoconsiderado como o Reader's Digest da tradicional família pornô gay pernambucana, foi adotado por toda comunidade lusófona pornófila.
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