quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Chili porn

Chili porn
Bareback juvenil não-escatológico

Não é novidade para os leitores desse blog o quanto os filmes pornôs gays latinos têm feito sucesso pelo mundo a fora. De tanto estes filmes voltarem à pauta nos últimos tempos os leitores podem pensar que Boris Transar especializou-se no assunto e até já recebe uma bolsa de estímulo à pesquisa do CNPq. Ledo engano. As pesquisas no laboratório de pornologia prosseguem, mas elas são às expensas do meu cofrinho, embora eu aceite doações desinteressadas. Quem estiver habilitado é só clicar no banner do Pag Seguro, à direita, e seguir as instruções.

No início era o verbo, depois vieram os deuses latinos, e a lista inclui vários deles citados na matéria Amante Latino, publicada no mês de setembro. Aquela lista nunca estará completa porque a cada dia aparece um astro novo, como o espetacular argentino Marco Blaze (aka Marco Vega) ou porque lembramos de incluir um veterano que, por descuido, ficou de fora, como o mexicano de pau inconfundível, Dean Phoenix. O sucesso desses atores ensejou que pouco tempo depois fossem feitos filmes apenas com latinos no elenco.

Os filmes latinos começaram a chegar aos catálogos há bastante tempo, considerando o pioneirismo do trabalho de Kristen Bjorn, iniciado no Brasil há vinte anos atrás. Mas só a partir do final dos anos 1990, quando as populações de cidades da Europa e dos Estados Unidos se tornaram
o latinas quanto São Paulo, La Ciudad de México, Bogotá ou Buenos Aires, é que este subgênero viveu seu boom. Filmes pornôs gays fazem parte da cultura urbana, por esse motivo é difícil pornolizar países que, embora sejam populosos, são predominantemente rurais, como os africanos e asiáticos, locais onde também não há liberalismo político nem econômico. A virada da situação sócio-econômica da América Latina permitiu que essa indústria do entretenimento se estabelecesse aqui e facilitou a chegada das produtoras transnacionais.

Uma dessas produtoras é a Rainbow Movie, um braço da RainbowMedia, uma empresa holandesa, especializada em entretenimento orientado para o público gay de todas as idades, que produz e distribui filmes de vários gêneros, sendo os filmes latinos um dos produtos de maior aceitação no mercado. Bareback México Twinks (Rainbow Movie) é o primeiro filme de uma série intitulada Mexico Series. É um filme modesto no orçamento e no resultado, mas auspicioso na pretensão. Pode ser um filme-piloto de sondagem de produção e de mercado. Se bem sucedido, caso a produtora tome um pouco mais de cuidado com questões técnicas, pode estar surgindo uma nova série de filme bareback juvenil não-escatológico comparável, ou até superior, ao resultado que Vlado Iresch tem conseguido para a AVI Production, na República Tcheca, ou Rolf Hammerschmidt para a Hammer Entertainment, também no Leste Europeu.

Europeus e americanos não podem afirmar que o exotismo da paisagem natural e humana de um filme rodado no México, em 2007, lhes cause o mesmo estranhamento de outrora porque em muito pouco a paisagem destes filmes difere daqueles que são feitos em qualquer lugar do mundo. No modo de produção e distribuição difere menos ainda. Não esperem encontrar em Bareback México Twinks alguma identidade nacional mexicana que não seja na particular aparência física dos atores que exibem todas as variações das raças que formaram o país. Alguns filmes pornôs gays se prestam com perfeição para retratar essa homogenização cultural que torna grande parte dos lugares do planeta indistintos. Neste, por exemplo, os temas do folclore e da arte popular do México estão completamente ausentes, os herdeiros de Montezuma estão irreconhecíveis. Já se acabou o tempo em que o México era o cenário adequado para as fantasias de Sergei Eisenstein (1898-1948), Luis Buñuel (1900-1983) e Jean Daniel Cadinot (1944-2008), só para citar alguns mestres da cinematografia que lá chegaram com idéias na cabeça e câmera no tripé.

Quem estiver interessado em filmes com maior autenticidade e cultura mexicana deve procurar pelos filmes da Mecos Film, que surgiu recentemente dizendo ser a primeira “con un proyecto definido y de calidad, orgullosos de mostrar la variedad de los hombres de México, sin miedo a presumir nuestra cultura y nuestra cachondería”. La Putiza (Mecos Film, 2004) cumpre perfeitamente os objetivos culturalistas da Mecos. É um filme interessantíssimo de "lucha libre" gay, com toda aquela conhecida indumentária e máscaras usadas nos ringues. Foi ganhador do Heat Gay 2004, em Barcelona, Espanha, nas categorias Melhor Filme e Melhor Roteiro. La Verganza (Mecos Film, 2003) é outro filme do catálogo que segue a linha folclórica de La Putiza. Estes filmes possuem na embalagem um design gráfico inspirado no rico ornamento do artesanato local. A série Seleccion Mexicana é menos folclórica, já está no terceiro episódio e mostra os testes com rapazes que se candidatam a uma vaga de ator na produtora. É na Mecos Film que se pode encontrar os herdeiros Montezuma com algum traço pré-colombiano misturado à cultura popular e de massa.

Seja num filme culturalista de uma produtora local ou num filme globalizado de uma produtora transnacional, o que há a ser comentado é a entrada do México no circuito pornô gay mundial, cuja falta só era explicada por conta da influência da religião católica no país. Razão que também explica como uma numerosa comunidade gay permaneceu com os hábitos comportamentais e de consumo reprimidos por tanto tempo.

A receita mexicana de um chili porn começa com um muchacho numa tarde de sol percorrendo as ruas da cidade. Quando ele começa a catar homem pelo caminho até esgotar a capacidade de lotação de um Volkswagen, pode ter certeza que ele não está apenas socializando essa máquina que torna a cidade do México insuportável. Sua camaradagem pelo menos não ameaça nem de longe aumentar a população. Na bunda não fecunda e ele tem a graça da Virgem de Guadalupe.

O passatempo mais freqüente de alguns tipos de bofe é lavar o carro do pai no quintal de casa, uma tara que só se compreende se for feita em grupo e com muita esfregação. O filme retrata como se pratica isso debaixo de um sol escaldante. Três mestiços, cada um leva a sua mangueira, e a insuspeita ação higienizadora da lataria vira uma putaria que poucas vezes se viu igual. Um deles usa o cabelo como Gustavo Dudamel, o tesudo maestro venezuelano, e a baqueta não é menos talentosa que a do regente dos jovens músicos pródigos da orquestra bolivariana. Ele é logo abocanhado por um expedito nas artes de chupar pica. O terceiro é um Raimundo sem rima. Nessa seqüência temos os dois melhores atores do filme contracenando, mas não se pode dar-lhes o crédito devido por conta da insuficiência de informações do filme. Mas os apelidos de Dudamel e de Expedito lhes cai bem. O Expedito tem uma pica bem proporcionada no sentido longitudinal. Picas com esse design proporcionam um excelente desempenho mecânico durante a penetração, e são as preferidas dos fotógrafos. Dudamel é o primeiro a sentir toda a envergadura da ferramenta do Expedito, depois é a vez do Raimundo. Versátil, o Expedito deita no capô para fazer um frango assado na chapa quente do Volkswagen. A lavagem do carro se encaminha para um final com direito a gozadas recíprocas na boca, como sói acontecer nos melhores filmes bareback.
Uma partida de totó se transforma uma disputa apertada quando os dois jogadores fazem o possível para receber pau no cu como prêmio. Esse jogo, à semelhança de lavar o caro do papai, é outra maneira de passar o tempo que só se compreende se for feita em grupo e com pegação pesada. A cada gol uma peça de roupa é retirada e no fim o jogo endurece e tem prorrogação. Os jogadores são o Expedito da primeira seqüência e um rapaz de rosto afilado. Nessa seqüencia dá para reparar como o Expedito é atraente, simpático, baixinho, coxudo, bundudo, um tipo de talento que pode despontar numa carreira promissora. O rapaz afilado não o deixa escapar, aproveita a potencialidade traseira e dianteira sem parcimônia. O Expedito se posiciona para a investida e toma no cu com uma expressão de prazer inaudita.
Dois muchachos fazem a terceira seqüência trepando no telhado da casa com muita mestria. O ativo é um comedor com boa ferramenta, o passivo é o Raimundo da primeira seqüência, aqui num desempenho muito superior. Faz um tipo dedicado à causa, parece entrar em transe quando toma pica. Sem luxos, eles são criativos no uso dos parcos recursos cenográficos de uma laje. Fazem de uma unidade condensadora de ar condicionado uma cama e o ativo se agarra onde pode para conseguir uma penetração mais vistosa. Por esforço e graça divinas os protagonistas oferecem ao fotógrafo ângulos que ele aproveita com precisão. O Raimundo e o Expedito, quando no desempenho de seus papéis passivos, atuam como se estivessem sob efeito de peyote. Oxalá esteja longe o dia em que as autoridades de plantão passem a exigir dos atores dos filmes pornôs gays exame anti-doping.

Dudamel e o motorista do Volkswagen fazem a última seqüência no gramado candidamente pegando sol num bote inflável usado como piscina. Brincadeira de criança que acaba como disputa de adolescente. Dudamel aplica-lhe a batuta com vigor. O motorista, como já foi dito, tem a graça da Virgem de Guadalupe quando está ao volante, mas quando senta numa pica toma ares de Messalina. Ele retribui os favores de Dudamel com uma leitada facial muito farta.

Os astros do elenco são tratados pelo prenome: Dano, Mauro, Pedro, David, Saul, Noé, não se sabe quem é quem e o diretor nem assinou a obra. Entre os operários do pornô gay existem astros de todas as grandezas, idolatria, anonimato e até obras apócrifas. O que se testemunha em Bareback México Twinks é a singeleza, o vigor de quem ainda não completou a maior idade a não ser na burocrática papelada que agora exigem deles, forçando-os a cometer fraudes obscenas. São franguinhos que já aprenderam, e estão ensinando aos outros, que o cu foi o último órgão da anatomia humana a ser educado socialmente. Sua fornicação é comprovante audiovisual que os sociólogos atribuem a uma habilidade adquirida, enquanto os geneticistas alegam ser nata. Quando eles chegarem a uma conclusão este blog quer ser um dos primeiros a divulgá-la.

Estes seis rapazes não devem ser os melhores mexicanos da galáxia, mas certamente eram os mais apetecíveis para um espetáculo de sexo que é tão próximo da realidade a ponto de provocar suspiros poéticos e saudades em alguém.


Saiba Mais:

Mecos Film website