Qual é a questão?
Recentemente o redator do blog Supermaledownloads perguntou, diante da proliferação de tantos filmes bareback brasileiros – realizado pelas poucas produtoras brasileiras ou pelas várias produtoras estrangeiras de “passagem” pelo Brasil –, se eles haviam se tornado “moda”. Para esclarecer esta dúvida deve-se primeiramente considerar que o pornô é o cinema despido de qualquer discurso além do que esteja sendo mostrado. Funcionam como freios morais, aceleradores de desejos e dissipadores de tensões, mantendo ocupadas mãos hábeis e também aquelas incapazes de fazer algo melhor. Estes filmes são grandes criadores de fantasias, muito mais entre os homens do que entre as mulheres, afirmam alguns doutores. Certo é que há um público bem iniciado, que já fez do deste hábito uma ciência e, ao mesmo tempo, há apreciadores eventuais.
Na visualização das imagens há espaço para que buracos de percepção se abram e através deles se pode perceber a cultura que produziu tal espetáculo audiovisual. A profundidade do filme pornô está mais nesses buracos do que no sexo que nele se pratica. O interesse por um determinado filme nem sempre está nele mesmo, mas fora dele, e são esses buracos, e não outros, que permitem ir além do que se vê. Os preservativos que apareceram nos filmes, a partir de meados dos anos de 1980, são buracos que se abrem para um mundo excessivamente real, enquanto os que a platéia busca se meter são os da fantasia. O preservativo, funcionando como uma redoma que isola, sem afastar, o objeto do usuário, foi a mais eficiente, talvez a única solução que permitiu que os filmes pornôs saíssem da crise decorrente do surgimento da AIDS. O aparecimento de profissionais contaminados nos filmes pode voltar a prejudicar uma atividade que, costumeiramente, é marginalizada.
Enquanto os pornófilos se especializaram nas cenas de sexo os sexofóbicos perceberam o quanto é facultativo vê-las, justo porque elas repetem um esquema sobejamente conhecido (a estrutura tripartite da chupada – metida – gozada, já comentada aqui) que pouco acrescenta às suas interpretações. Foram os sexofóbicos quem primeiro perceberam que nesses filmes, além do sexo, existe uma outra narrativa, mais significativa do que supõe nossa vã pornosofia, que os envolve como uma atmosfera de densidade venusiana.
O redator do blog Supermaledownloads não testemunhou um fenômeno de “moda”, que tem caráter de consumo efêmero – a necessidade de uso da camisinha é o que se espera ser moda. O que ele testemunhou foi a popularização de uma prática que antes estava restrita a um grupo como um “fetiche”. No momento em que ainda não há cura para o HIV e o número de infectados aumenta a cada ano, o bareback foi adotado por algumas produtoras como um plano de conquista de mercado, um risco que certos atores correm, da mesma forma que os dublês dos filmes de ação em Hollywood, que substituem os atores em cenas perigosas ou tecnicamente difíceis. Ambos profissionais praticam a realidade no mundo da ficção, e são (bem) pagos para isso.
Por seu turno a audiência sente prazer irrefletido em ver o risco dos outros enquanto eles mesmos preservam-se de tal risco. Há quem considere a possibilidade desses filmes incentivarem práticas idênticas na audiência, e por isso fazem objeção. Em tal caso há de levar em conta que alguns tipos de filme, como os que envolvem práticas não-convencionais, tipo bondage, zoofilia e coprofagia, exercem efeito contrário, inibidor, por excitarem uma platéia incapaz de concretizar tais atos, seria este o caso dos filmes bareback?Na mesma proporção que se multiplicaram os papéis sexuais também se multiplicaram os produtos que os exploram como espetáculo. Hoje existe uma enorme quantidade de produtoras pornôs concorrendo num mercado que cada vez se importa menos com as práticas do “sexo seguro” e seus produtos alcançam igualmente os consumidores que praticam o “sexo seguro”. Podem estes produtos influir na conduta de tais indivíduos? Estes filmes deseducam toda uma geração que, a duras penas, aprendeu a usar camisinha? Até agora nada comprova que o aumento da ocorrência do HIV se deve aos filmes bareback ou, de uma maneira jocosa, se pode dizer que ninguém contrai HIV por assistir um filme desse tipo. Contudo, se contrai atuando neles. Ano passado veio a público o caso de três atores britânicos contaminados enquanto atuavam num filme bareback de uma produtora local com um quarto ator que alegou desconhecer sua condição de soropositivo na época das filmagens. A questão do filme sem proteção tornou-se tão relevante que foi criada nos Estados Unidos a AIM Healthcare Foundation, uma organização sem fins lucrativos para cuidar exclusivamente da saúde física e psicológica dos profissionais do sexo e dos trabalhadores da indústria pornográfica.
Foram as facilidades dos meios de produção e de comercialização que fizeram essas produtoras se tornarem numerosas. Em tal situação foi imperativo que elas buscassem dotar seus produtos de algum diferencial que garantisse sua sobrevivência num mercado que busca o espetáculo a qualquer custo e onde o produto havia envelhecido, mas não havia se tornado obsoleto. Não se pode negar que eles possuem um mínimo de iniciativa inovadora. Analisando os filmes pornôs gays mediante o emprego do conceito de função, tão caro ao modo de produção em série, pode-se dizer que aqueles com camisinha são apenas produtos prático-funcionais. Os sem camisinha são igualmente prático-funcionais, contudo a eles foram adicionadas funções simbólicas como estratégia de assegurar as vendas em uma época que conjuga crise e saturação do mercado. Essa análise merece ser pormenorizada oportunamente levando em conta as variáveis do produto, do usuário e das relações entre eles.
As novas produtoras aparecem no mundo todo e se tornaram transnacionais mantendo alguma identidade local, filmando em países onde o capitalismo é incipiente ou tardio e lucrando onde ele é avançado. São elas quem estão abocanhando fatias do mercado que há pouco tempo atrás era exclusivo das grandes produtoras. Pelo sucesso alcançado por algumas delas, como a Eurocreme, pode-se dizer que a produção de filmes bareback alcançou os objetivos esperados, mas a Eurocreme é um caso particular que não desprezou a qualidade geral. A grande maioria é de pequenas produtoras que adotaram a mesma receita adaptada a orçamentos baixíssimos que resultaram em qualidade idem. Da atual safra de filmes bareback brasileiros não há nenhum que não exiba traços de indigência. Alguns deles tendo feito dessa condição periclitante seu diferencial, a exemplo dos filmes da MachoFucker ou do exemplar Rico Puentes is Fucking Faggs (Robert Hill Releasing), uma série dirigida por Marcos Alexandre que já lançou quatro volumes. Nesses filmes a falta de camisinha não pode ser justificada pela carência material. Contudo a concupiscência desses filmes deve ser adotada por produtoras e diretores cujo trabalho pouco mais apresentam que grandes orçamentos e sexo blasé.
Nesta situação de penúria a exceção talvez sejam as cenas bareback feitas pelo casal Pedro Andreas e Daniel Marvin, uma delas para o filme El Rancho (Kristen Bjorn, 2007). Contudo, o próprio estúdio, temendo repercussão negativa da cena perante o grupo das nove grandes produtoras, o G9 (Bel Ami, Channel 1 Releasing, COLT Studio, Falcon Entertainment, Hot House Entertainment, Lucas Entertainment, Raging Stallion Studios, Sarava Productions e Titan Media), enfatizou que os atores são parceiros na vida real, argumento que não convenceu todos os guardiões das normas do “sexo seguro” do pornô gay. Com atores estrangeiros, a Bel Ami foi outra produtora do G9 que também realizou cenas bareback, como a dos “namorados” Tommy Hansen e Tim Hamilton numa cama de céu azul e nuvens brancas em Greek Holiday 2 (Bel Ami, 2004), dirigidos por Georges Duroy, possivelmente o filme mais apolíneo de todos os tempos; para escapar à patrulha da camisinha, a edição de Greek Holiday 2 comercializada não tem a cena de penetração bareback, que pode ser encontrada facilmente na internet. Outro casal de namorados que também apareceu em cenas de sexo sem camisinha foi Pierre Fitch (Falcon Studios) e Ralph Woods (Bel Ami, Bad Puppy, Falcon Studios), numa produção própria (Fitch Woods Media), com apenas 27 minutos. Para permanecerem competitivas as produtoras veteranas que possuem nos seus arquivos filmes feitos por volta dos anos de 1980, ou anteriores, os relançam, classificando-os com o rótulo de bareback, substantivo que antes dos anos de 1990 não existia com o sentido que se emprega aqui. Exemplo disso é Bareback Classics (Falcon Studios), um pacote com três DVDs. Tal atitude demonstra que nem mesmo as grandes produtoras descuidam de usar esse ardil já que, comprovadamente, há público cativo para esse espetáculo.
Recentemente formou-se uma cruzada contra os filmes com cenas de sexo sem proteção. A ela aderiu um peso-pesado flamejante, o diretor drag Chi Chi LaRue, dono da produtora Channel One Releasing, possivelmente a pessoa mais bem sucedida, financeiramente, do pornô gay mundial. Chi Chi abriu um buraco com o diâmetro de seu bucho na percepção dos pornôs gays como um sistema de interesses organizados. Ninguém é ingênuo o bastante para acreditar que o motivo da cruzada anti-bareback é unicamente a saúde dos atores. Nela há, indisfarçavelmente, o interesse de que todas as produtoras joguem cumprindo as mesmas regras mercadológicas. Como o capitalismo nunca deu muita bola para a ética, a iniciativa ainda carece de adesões sinceras. Percebe-se intenção de impor uma padronização porque os que não se enquadram no padrão estão incomodando. Bruce Cam e Keith Webb, da Titan Media, também se engajaram à campanha cuja intenção de subtrair do consumidor adulto a opção de adquirir o produto de seu desejo já foi acusada de autoritária e retrógada, pois imporia a escolha de qualquer tipo de filme, contanto que seja com camisinha. Com este grupo foi criado o “fordismo do pornô gay” quando eles atualizaram a velha frase de Henry Ford dita aos compradores do Modelo T: "o carro é disponível em qualquer cor, contanto que seja preto".Tal campanha está longe de ser consensual e o único resultado prático foi conseguir que produtoras de filmes pornôs bareback não participem das principais premiações da indústria pornô norte-americana, como The Adult Erotic Gay Video Awards e o GayVN, que acontece no próximo dia 28. Contudo, o David Awards e o European Gay Porn Awards não deixaram de premiá-los. Sam Dixon, da Tipo Sesso, em entrevista para a Out Magazine falou em nome de vários produtores ao afirmar que “Nós somos uma indústria para adultos, não um indústria educacional". Outros, como Paul Morris, da Treasure Island Media, não precisaram se manifestar, seus filmes expressam a opinião deles sobre o tema. Eles vão continuar fazendo os mesmos filmes desde que lhes garantam uma receita vantajosa. O show deve continuar com segurança, sem discussões tautológicas nem interesses mercadológicos travestidos das melhores intenções. Se ganha competividade num mercado saturado fazendo filmes com sexo seguro que não sejam tão apáticos. Já seria uma boa iniciativa que os diretores evitassem as famigeradas gozadas no peito e atores fazendo cara de repulsa diante de uma farta gozada, um luxo que muitos nunca tiveram o prazer de provar. Também ajudaria a adoção de soluções criativas, como a atenuação das marcas de camisinha com edição digital de imagem.
Em resumo, o aparecimento dos filmes bareback é o fenômeno da competição que explora os aspectos sócio-psicológicos do mercado tendo por finalidade a sobrevivência das produtoras e da audiência, talvez a dos atores, e pertence muito mais ao campo da economia do que dos costumes.
Recentemente o redator do blog Supermaledownloads perguntou, diante da proliferação de tantos filmes bareback brasileiros – realizado pelas poucas produtoras brasileiras ou pelas várias produtoras estrangeiras de “passagem” pelo Brasil –, se eles haviam se tornado “moda”. Para esclarecer esta dúvida deve-se primeiramente considerar que o pornô é o cinema despido de qualquer discurso além do que esteja sendo mostrado. Funcionam como freios morais, aceleradores de desejos e dissipadores de tensões, mantendo ocupadas mãos hábeis e também aquelas incapazes de fazer algo melhor. Estes filmes são grandes criadores de fantasias, muito mais entre os homens do que entre as mulheres, afirmam alguns doutores. Certo é que há um público bem iniciado, que já fez do deste hábito uma ciência e, ao mesmo tempo, há apreciadores eventuais.
Na visualização das imagens há espaço para que buracos de percepção se abram e através deles se pode perceber a cultura que produziu tal espetáculo audiovisual. A profundidade do filme pornô está mais nesses buracos do que no sexo que nele se pratica. O interesse por um determinado filme nem sempre está nele mesmo, mas fora dele, e são esses buracos, e não outros, que permitem ir além do que se vê. Os preservativos que apareceram nos filmes, a partir de meados dos anos de 1980, são buracos que se abrem para um mundo excessivamente real, enquanto os que a platéia busca se meter são os da fantasia. O preservativo, funcionando como uma redoma que isola, sem afastar, o objeto do usuário, foi a mais eficiente, talvez a única solução que permitiu que os filmes pornôs saíssem da crise decorrente do surgimento da AIDS. O aparecimento de profissionais contaminados nos filmes pode voltar a prejudicar uma atividade que, costumeiramente, é marginalizada.
Enquanto os pornófilos se especializaram nas cenas de sexo os sexofóbicos perceberam o quanto é facultativo vê-las, justo porque elas repetem um esquema sobejamente conhecido (a estrutura tripartite da chupada – metida – gozada, já comentada aqui) que pouco acrescenta às suas interpretações. Foram os sexofóbicos quem primeiro perceberam que nesses filmes, além do sexo, existe uma outra narrativa, mais significativa do que supõe nossa vã pornosofia, que os envolve como uma atmosfera de densidade venusiana.
O redator do blog Supermaledownloads não testemunhou um fenômeno de “moda”, que tem caráter de consumo efêmero – a necessidade de uso da camisinha é o que se espera ser moda. O que ele testemunhou foi a popularização de uma prática que antes estava restrita a um grupo como um “fetiche”. No momento em que ainda não há cura para o HIV e o número de infectados aumenta a cada ano, o bareback foi adotado por algumas produtoras como um plano de conquista de mercado, um risco que certos atores correm, da mesma forma que os dublês dos filmes de ação em Hollywood, que substituem os atores em cenas perigosas ou tecnicamente difíceis. Ambos profissionais praticam a realidade no mundo da ficção, e são (bem) pagos para isso.
Por seu turno a audiência sente prazer irrefletido em ver o risco dos outros enquanto eles mesmos preservam-se de tal risco. Há quem considere a possibilidade desses filmes incentivarem práticas idênticas na audiência, e por isso fazem objeção. Em tal caso há de levar em conta que alguns tipos de filme, como os que envolvem práticas não-convencionais, tipo bondage, zoofilia e coprofagia, exercem efeito contrário, inibidor, por excitarem uma platéia incapaz de concretizar tais atos, seria este o caso dos filmes bareback?Na mesma proporção que se multiplicaram os papéis sexuais também se multiplicaram os produtos que os exploram como espetáculo. Hoje existe uma enorme quantidade de produtoras pornôs concorrendo num mercado que cada vez se importa menos com as práticas do “sexo seguro” e seus produtos alcançam igualmente os consumidores que praticam o “sexo seguro”. Podem estes produtos influir na conduta de tais indivíduos? Estes filmes deseducam toda uma geração que, a duras penas, aprendeu a usar camisinha? Até agora nada comprova que o aumento da ocorrência do HIV se deve aos filmes bareback ou, de uma maneira jocosa, se pode dizer que ninguém contrai HIV por assistir um filme desse tipo. Contudo, se contrai atuando neles. Ano passado veio a público o caso de três atores britânicos contaminados enquanto atuavam num filme bareback de uma produtora local com um quarto ator que alegou desconhecer sua condição de soropositivo na época das filmagens. A questão do filme sem proteção tornou-se tão relevante que foi criada nos Estados Unidos a AIM Healthcare Foundation, uma organização sem fins lucrativos para cuidar exclusivamente da saúde física e psicológica dos profissionais do sexo e dos trabalhadores da indústria pornográfica.
Foram as facilidades dos meios de produção e de comercialização que fizeram essas produtoras se tornarem numerosas. Em tal situação foi imperativo que elas buscassem dotar seus produtos de algum diferencial que garantisse sua sobrevivência num mercado que busca o espetáculo a qualquer custo e onde o produto havia envelhecido, mas não havia se tornado obsoleto. Não se pode negar que eles possuem um mínimo de iniciativa inovadora. Analisando os filmes pornôs gays mediante o emprego do conceito de função, tão caro ao modo de produção em série, pode-se dizer que aqueles com camisinha são apenas produtos prático-funcionais. Os sem camisinha são igualmente prático-funcionais, contudo a eles foram adicionadas funções simbólicas como estratégia de assegurar as vendas em uma época que conjuga crise e saturação do mercado. Essa análise merece ser pormenorizada oportunamente levando em conta as variáveis do produto, do usuário e das relações entre eles.
As novas produtoras aparecem no mundo todo e se tornaram transnacionais mantendo alguma identidade local, filmando em países onde o capitalismo é incipiente ou tardio e lucrando onde ele é avançado. São elas quem estão abocanhando fatias do mercado que há pouco tempo atrás era exclusivo das grandes produtoras. Pelo sucesso alcançado por algumas delas, como a Eurocreme, pode-se dizer que a produção de filmes bareback alcançou os objetivos esperados, mas a Eurocreme é um caso particular que não desprezou a qualidade geral. A grande maioria é de pequenas produtoras que adotaram a mesma receita adaptada a orçamentos baixíssimos que resultaram em qualidade idem. Da atual safra de filmes bareback brasileiros não há nenhum que não exiba traços de indigência. Alguns deles tendo feito dessa condição periclitante seu diferencial, a exemplo dos filmes da MachoFucker ou do exemplar Rico Puentes is Fucking Faggs (Robert Hill Releasing), uma série dirigida por Marcos Alexandre que já lançou quatro volumes. Nesses filmes a falta de camisinha não pode ser justificada pela carência material. Contudo a concupiscência desses filmes deve ser adotada por produtoras e diretores cujo trabalho pouco mais apresentam que grandes orçamentos e sexo blasé.
Nesta situação de penúria a exceção talvez sejam as cenas bareback feitas pelo casal Pedro Andreas e Daniel Marvin, uma delas para o filme El Rancho (Kristen Bjorn, 2007). Contudo, o próprio estúdio, temendo repercussão negativa da cena perante o grupo das nove grandes produtoras, o G9 (Bel Ami, Channel 1 Releasing, COLT Studio, Falcon Entertainment, Hot House Entertainment, Lucas Entertainment, Raging Stallion Studios, Sarava Productions e Titan Media), enfatizou que os atores são parceiros na vida real, argumento que não convenceu todos os guardiões das normas do “sexo seguro” do pornô gay. Com atores estrangeiros, a Bel Ami foi outra produtora do G9 que também realizou cenas bareback, como a dos “namorados” Tommy Hansen e Tim Hamilton numa cama de céu azul e nuvens brancas em Greek Holiday 2 (Bel Ami, 2004), dirigidos por Georges Duroy, possivelmente o filme mais apolíneo de todos os tempos; para escapar à patrulha da camisinha, a edição de Greek Holiday 2 comercializada não tem a cena de penetração bareback, que pode ser encontrada facilmente na internet. Outro casal de namorados que também apareceu em cenas de sexo sem camisinha foi Pierre Fitch (Falcon Studios) e Ralph Woods (Bel Ami, Bad Puppy, Falcon Studios), numa produção própria (Fitch Woods Media), com apenas 27 minutos. Para permanecerem competitivas as produtoras veteranas que possuem nos seus arquivos filmes feitos por volta dos anos de 1980, ou anteriores, os relançam, classificando-os com o rótulo de bareback, substantivo que antes dos anos de 1990 não existia com o sentido que se emprega aqui. Exemplo disso é Bareback Classics (Falcon Studios), um pacote com três DVDs. Tal atitude demonstra que nem mesmo as grandes produtoras descuidam de usar esse ardil já que, comprovadamente, há público cativo para esse espetáculo.
Recentemente formou-se uma cruzada contra os filmes com cenas de sexo sem proteção. A ela aderiu um peso-pesado flamejante, o diretor drag Chi Chi LaRue, dono da produtora Channel One Releasing, possivelmente a pessoa mais bem sucedida, financeiramente, do pornô gay mundial. Chi Chi abriu um buraco com o diâmetro de seu bucho na percepção dos pornôs gays como um sistema de interesses organizados. Ninguém é ingênuo o bastante para acreditar que o motivo da cruzada anti-bareback é unicamente a saúde dos atores. Nela há, indisfarçavelmente, o interesse de que todas as produtoras joguem cumprindo as mesmas regras mercadológicas. Como o capitalismo nunca deu muita bola para a ética, a iniciativa ainda carece de adesões sinceras. Percebe-se intenção de impor uma padronização porque os que não se enquadram no padrão estão incomodando. Bruce Cam e Keith Webb, da Titan Media, também se engajaram à campanha cuja intenção de subtrair do consumidor adulto a opção de adquirir o produto de seu desejo já foi acusada de autoritária e retrógada, pois imporia a escolha de qualquer tipo de filme, contanto que seja com camisinha. Com este grupo foi criado o “fordismo do pornô gay” quando eles atualizaram a velha frase de Henry Ford dita aos compradores do Modelo T: "o carro é disponível em qualquer cor, contanto que seja preto".Tal campanha está longe de ser consensual e o único resultado prático foi conseguir que produtoras de filmes pornôs bareback não participem das principais premiações da indústria pornô norte-americana, como The Adult Erotic Gay Video Awards e o GayVN, que acontece no próximo dia 28. Contudo, o David Awards e o European Gay Porn Awards não deixaram de premiá-los. Sam Dixon, da Tipo Sesso, em entrevista para a Out Magazine falou em nome de vários produtores ao afirmar que “Nós somos uma indústria para adultos, não um indústria educacional". Outros, como Paul Morris, da Treasure Island Media, não precisaram se manifestar, seus filmes expressam a opinião deles sobre o tema. Eles vão continuar fazendo os mesmos filmes desde que lhes garantam uma receita vantajosa. O show deve continuar com segurança, sem discussões tautológicas nem interesses mercadológicos travestidos das melhores intenções. Se ganha competividade num mercado saturado fazendo filmes com sexo seguro que não sejam tão apáticos. Já seria uma boa iniciativa que os diretores evitassem as famigeradas gozadas no peito e atores fazendo cara de repulsa diante de uma farta gozada, um luxo que muitos nunca tiveram o prazer de provar. Também ajudaria a adoção de soluções criativas, como a atenuação das marcas de camisinha com edição digital de imagem.
Em resumo, o aparecimento dos filmes bareback é o fenômeno da competição que explora os aspectos sócio-psicológicos do mercado tendo por finalidade a sobrevivência das produtoras e da audiência, talvez a dos atores, e pertence muito mais ao campo da economia do que dos costumes.