sábado, 31 de março de 2007

Me copia que eu gosto

Me copia que eu gosto

O melhor troca-troca da rede


Ainda sem solução o caso do assassinato do diretor e produtor Bryan Charles Kocis do estúdio Cobra Vídeo (EUA), noticiado aqui em fevereiro. Quem souber de alguma informação que ajude a esclarecer esse mistério deve se comunicar com a polícia da Pennsylvania, a recompensa chega a U$ 2.000,00 (R$ 4.200,00).

Em O que há na rede, publicado em janeiro, foi tratado o conteúdo audiovisual pornô gay que merece a atenção do usuário de internet. Naquela matéria não foi incluido o protocolo BitTorrent porque até aquele momento eu ainda não havia ponderado a respeito dessa novidade, mas passado algum tempo eu pude, finalmente, formular juízo próprio baseado no caso do
The Pirate Bay, que se autodenomina o maior indexador de arquivos BitTorrent do mundo e, enquanto não há uma estatística que lhe garanta esse título ele é, pelo menos, o que tem causado mais polêmica.

A Suécia não será mais lembrada apenas pelos vikings, nem pelas pioneiras revistas de sexo, nem pela Copa de 1958 do primeiro título do Brasil e do filho de Mané Garrincha, nem pelo Prêmio Nobel, nem pela rainha Silvia, filha de mãe brasileira, nem pela andrógina sensualidade de Greta Garbo, nem pelos filmes de Ingrid e Ingmar Bergman, nem pelos seios de Anita Ekberg ou pelo estudio S.E.V.P. – Scandinavian Erotic Video Production e seus rapazes ao natural trepando nas florestas de coníferas. Naquele país surgiu, em 2003, The Pirate Bay, o site que ganhou notoriedade mundial e minha particular simpatia desde que foi vitima da truculência que pode acontecer até na civilizada Escandinávia.

Criado pela organização anti-copyright Piratbyrån (Bureau da Pirataria), The Pirate Bay enfrentou poucos problemas com a justiça local tendo, inclusive, se notabilizado pelo bom humor com o qual responde às ameaças que lhe são dirigidas por empresas que se sentem lesadas pelo site, até que em maio do ano passado eles sofreram um revés. A empresa onde ficam hospedados os servidores do site foi invadida por policiais e teve todos os computadores apreendidos indistintamente, com isso outros sites também tiveram seus dados e conteúdos apreendidos, um fato no mínimo polêmico num país tão liberal, o caso foi questionado pelo "Bureau da Pirataria" que também não aceitou a retirada do ar do site Piratbyrån, que não fazia distribuição de material protegido por copyright dedicando-se apenas a discussões sobre o assunto. Felizmente o site voltou ao ar apenas dois dias depois graças a um back-up hospedado na Holanda, mas ficou claro que a organização não pode ter seu servidor em apenas um local. Como estratégia de sobrevivência dos ideais que eles pregam pretendem agora adquirir a concessão do território do Principado de Sealand (Foto), que está disponivel por 10 milhões de Libras no Mar do Norte e declará-lo território livre de copyright.

Sealand, pra quem não sabe é, no plano ideológico, um marco de resistência contra as ordens imperialistas de Londres et caterva; fisicamente seu território é o de uma fortaleza construida no meio do mar para proteger o litoral de Essex e o porto de Harwich, na Inglaterra, de ataques alemães na Segunda Guerra Mundial. Conhecido como HM Fort Roughs, foi abandonado depois da Guerra e em 1967 foi ocupado por uma família de squatters ingleses cujo pai, Paddy Roy Bates, faz parte de uma geração anterior de piratas. Radialista e fiel servidor aposentado da armada britânica, Bates sabe bem o que é pirataria e declarou o local e as águas em seu redor como território livre e independente, sendo talvez a menor nação do mundo (550 m²) mas certamente uma das mais estranhas e anárquicas. Consiste em uma plataforma de aço apoiada sobre duas torres cilindricas de concreto, seu aspecto é de uma plataforma de petróleo abandonada, sua autonomia e independência não são reconhecidas nem faz parte da ONU, mas a situação da Dinastia dos Bates é tranqüila já que ninguém pode expulsá-los de um local que encontra-se fora da jurisprudência da Inglaterra e de qualquer outra nação européia.

Enquanto a estrutura aguentar o impacto das ondas Sealand será o local mais apropriado pra ser um território livre das mazelas "democráticos" ocidentais como os impostos abusivos, o copyright caduco e as peias morais que volta e meia tolhem a expressão transgressora genuinamente porn. Mas os objetivos do The Pirate Bay não se limitam ao conteudo pornográfico, seu principal líder e portavoz, Rasmus Fleischer, é um jovem que combate o tradicional limite à propriedade autoral em todo os conteúdos. Quem defende o copyright são os cartéis de grandes indústrias fonográficas, de audiovisual e programas de computador, que querem a todo custo fazer valer as velhas leis na era digital, justamente quando a informação tornou-se reproduzível a custo quase zero. Fleischer professa que para garantir a pluralidade de expressão, o número de fontes e arquivos disponíveis para partilha deve ser o maior possível, deve estar na mão dos usuários e não concentrado em grandes conglomerados (leia-se Google e similares). Trocando em miúdos ele está dizendo “copiar não dói”, o que sabemos ser verdade.

Deixando a profundidade de lado, o que é o BitTorent? Criado no mesmo ano do The Pirate Bay, em 2003, pelo comestível programador Bram Cohen (née 1975, foto), é um protocolo de compartilhamento de arquivos P2P que permite transferências grandes, rápidas e pode substituir os Napster, Kazaa, E-mule, entre tantos programas, com eficiência, e num sistema que não configura usurpação de copyright porque nenhum arquivo é mantido nos servidores e os trackers (sites que distribuem os logs) não têm nenhum controle sobre os usuários, apenas indexam os conteúdos, portanto não podem ser responsabilizados pelo que eles lançam. Sob a premissa de que os usuários são os donos do material que eles compartilham, os detentores dos direitos autorais, caso existam, teriam de se reportar a cada um dos usuários, o que é possível, mas impraticável.

Afinal, como funciona o BitTorent? Antes de tudo o usuário deve ter conexão de banda larga, baixar e instalar no seu próprio micro um programa de compartilhamento de arquivos torrent. Existem vários, os mais populares são o µTorrent e o BitTorrent. Feito isso o usuário deve procurar um tracker, The Pirate Bay é um deles, mas existem inúmeros, como o Mininova e o Torrentz. Talvez porque ainda sejam poucos os usuários de torrents no Brasil não há muitos trackers em português, um deles é o pouco recomendável TorrentsBR. The Pirate Bay traz opção de idioma em português, o que ajuda os monoglotas. Escolhidos os trackers o usuário passa para a fase seguinte que é escolher os títulos e baixar os logs correspondentes dos próprios trackers. Esses logs não são protegidos por copyright, são arquivos muito pequenos, com aproximadamente 50KB e há nos trackers uma espécie de ficha com informações sobre eles. Cada log deve ser, em seguida, adicionado no programa de compartilhamento de torrent. O programa, então, procura pelos usuários do sistema que tenham baixado o arquivo correspondete àquele log. Nesse momento, os dados começam a chegar ao computador vindo de várias fontes diferentes, cada uma transmitindo um pedaço do original que foi fragmentado em vários; os pedaços são compartilhados entre todos os usuários que fizeram o download. À medida que os pedaços chegam ao micro, o programa junta todos em um único arquivo que pode ser, finalmente, executado. É bom que se diga que devido à forma como a rede funciona, alguns torrents podem ficar indisponíveis se as fontes param de compartilhar o arquivo, essas fontes se chamam peers (com o arquivo incompleto) e seeds (com o arquivo inteiro). Mas normalmente eles so ficam indisponíveis quando ninguém procura pelo arquivo por um longo tempo. Depois de baixado o arquivo desejado e depois do usuário certificar-se de sua integridade, o log pode ser descartado, ele só funciona com o um localizador. Para fazer uploads é igualmente simples, os arquivos mantidos no programa de torrents estarão sempre sendo reenviados para quem tenha o log correspondente que os localize.

O sistema de compartilhamento BitTorrent é autoexplicável e, sem dúvida, o usuário em pouco tempo estará familiarizado com as ferramentas e suas possibilidades. O compartilhamento de arquivos na rede até tem seu lado político e suas derivações ideológicas para quem se dispor a ir mais longe na questão. Pelo lado simplesmente prático constata-se que o BitTorrent está sendo adotado pelo usuário gay com interesse sobretudo em filmes. Exclusivamente com conteúdo dirigido a esse público há o Gay Torrents. Este tracker não se autodenomina mas acredito ser ele o maior em conteúdo. Sem dúvida é o melhor local para esse tipo de troca-troca. O tracker está em inglês, alemão, chinês e tem um canal latino; oferece além de filmes um fórum de discussões nem sempre envolventes pois o que interessa, particularmente, é a lista enorme de títulos como sexo explicito ou não, indexados por categorias (Vintage, Amateur, Anime, Drama, Bears, Clip, Bareback, entre outros). O GayTorrents é um website do tipo user-oriented que permite a criação de perfis pessoais e gerenciamento de mensagens, além dos filmes e dos fóruns de discussão ainda há games e camchat. É necessário fazer registro mas é rápido e gratuito. A lista de filmes é enorme e graças a usuários extremamente gentis pode-se compartilhar uma coleção que nenhuma loja de rua conseguiria suplantar com as mesmas vantagens.

A tempo incluo o protocolo BitTorrent e os trackers GayTorrent e The Pirate Bay na lista do que há na internet que merece a atenção do usuário.

3 comentários:

  1. depois de receber alguns e-mails convidando a visitar este blog, sem que isto me tenha despertado interesse, nesta noite de domingo me bateu a curiosidade que me impulsionou a conferir o que há nos textos (mais longos que os existetntes na maioria dos blogs que vejo por aí) deste autor de nome simpático. Surpresa total. Textos ricos focados num tema que sugere pouco espaço para novidades ou conteúdo relevante.
    Parabéns pelo poder de manter o interesse do leitor. Passei mais de 40 minutos lendo um blog ininterruptamente, captando novas informações (algumas úteis, outras nem tanto) e passaria bem mais. No entanto tenho que dormir, mas farei outras visitas. Até logo.

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  2. Anônimo10:46 PM

    Muito interessante, principalmente sobre o principado de Sealand e sua "anarquia no meio do Oceano", quanto ao caso do diretor assassinado eu acho que os investigadores estão dando mais tempo para investigar mais a "fundo" o material da produtora e dos atores também hehe, tomará que o conhecimento disponível na internet se torne realmente de livre acesso a todos que interessar

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  3. Anônimo8:32 PM

    Num é preguiça de ler... Mas é que no seu caso, vale a pena mais resumir um pouco... Seus textos estão parecendo terapia de divã...

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