O pornô gay é chic em muitas fitas, mas na hora de mostrar gente humilde ele sobe o morro e descem à mais baixa planície para dar a volta por cima da carne seca. Além da pioneira Kristen Bjorn, das já consagradas AMG Brasil, Latino Fan Club, Alexander Pictures, MachoFucker e OTB Vídeo, continua sendo lançado farto material com sob o signo da latinidade. Quem não curte ver gente humilde gozando precisa ler este post para aprender a curtir.
Já foi alertado, aqui mesmo, sobre a imprecisão da categoria latino que reúne filmes, estilos e biótipos de tão variados matizes. No laboratório de pornologia de Boris Transar dois jovens bolsistas verificaram que são circunstâncias externas e internas aos filmes que os reúne embaixo desse vasto sombrero categórico. Há uma tendência disciplinar de submeter o pornô, os fetiches e a identidade sexual a divisões, subdivisões e categorias mais ou menos estanques. A psicanálise procura explicar o fenômeno como um fetiche relacionado com a tauromaquia, tese refutada pelos espanhóis. Os etnólogos acreditam que semelhanças étnicas são aglutinantes, já os sexólogos defendem que as diferenças seduzem mais do que as semelhanças.
Os historiadores não sabem ao certo quando teve origem, mas se essa nação pornô latino-americana tivesse uma capital seria na Flórida (EUA), onde são prósperas as atividades da indústria pornô norte-americana que emprega muitos hispânicos. O Brasil ocupa uma posição de província autônoma. Com sua própria mão-de-obra, sua indústria e investimentos estrangeiros, é um interlocutor de peso, sem o qual a integração pela via pornô gay não se viabiliza, conforme declarou uma fonte do babado que não quis identificar-se. A onda de filmes pornôs latinos cresceu nos últimos anos e virou um tsunami, alcançando o objetivo que a geopolítica persegue sem sucesso: integrar as três américas num único continente sob uma identidade fraterna, distinta da imperialista e beligerante identidade ianque.
Hispânicos, lusófonos, criôlos, francófonos, monoglotas e trogloditas, na latinidade pornô gay cabem todas as cores de pele, todas as crenças e todas as línguas com pouco discurso. Os latinos dessa categoria não vêm do Lácio, pelo contrário, são produzidos aqui mesmo nas repúblicas bananeiras com qualidade inigualável. Encontrados facilmente desde o Canadá até a Patagônia, não são homens luxentos e têm boa aceitação no mundo todo, inclusive na Europa e no Oriente. Para evitar a cobiça alheia, em países muçulmanos os amantes latinos são disfarçados com véus como se fossem mulheres. No Japão o espanhol já é a segunda língua ocidental mais falada. Há anos que o inglês Chris Geary incluiu os cariocas no seu roteiro de interesse erótico planetário.
Latin Inches é uma revista mensal dedicada aos amantes do gênero que é como um almanaque ilustrado com rapazes que, na maioria, não têm a pele negra nem branca, possuem o muito apreciado tom médio, a solução entre os extremos. As principais premiações do cinema pornô gay criaram, de uns anos para cá, uma categoria exclusiva para abrigar os filmes que apresentem esses tipos de atores. Este fato estimulou países como a Colômbia e México, sem tradição na produção de filmes pornôs, a começar a produzi-los no padrão que lhes é próprio e a co-produzir com países europeus filmes de maior orçamento.
Astros como o americano descendente de portoriquenhos Tiger Tyson, o dominicano Rick Martinez, os brasileiros Rafael Alencar, o casal Pedro Andreas e Daniel Marvin, o venezuelano Jean Franko, os argentinos Jeff Palmer, Tommy Lima e Max Schutler seguem a trilha traçada por Chad Douglas (Porto Rico, 1957 – EUA 1999), o primeiro grande astro latino, uma das maiores picas já vistas, considerado o maior ativo de todos os tempos. Esses astros são profissionais que faturam alto, possuem contratos com grandes produtoras ou tem sua própria produtora. Para atender um mercado tão amplo eles se submeteram a uma padronização física que quase eliminou a cara de gente humilde que eles tinham antes. Malhação, maquiagem, fotografia, tudo foi usado, em muitos casos sem sucesso, basta ver Rick Martinez. Ao mesmo tempo os filmes de outras produtoras preservam e ressaltam o aspecto natural dos modelos, de forma que não existem dois iguais nas suas imperfeições.
O Amazona Boy é uma produtora de filmes online especializada em modelos latinos da Amazônia e do Caribe. Foi a produtora que alçou Xunda ao posto de astro internacional, embora sua galeria de modelos possua outros talentos que igualmente poderiam almejar o mesmo destaque de Xunda, entre eles alguns indígenas que não dão moleza, muitos negros dispostos, mestiços desinibidos e brancos safados. O trabalho do Amazona Boy parece ação de ONG que dá meio de vida a jovens em atividades menos arriscado do que viver no mato ou na favela. A locação é na floresta que o mundo quer salvar. Os modelos são simpáticos e fotografados à beira dos igarapés parecem Oxum se banhando. Não merece nenhum crédito a advertência na página inicial do site que garante que eles têm mais de 18 anos. Despem-se das poucas roupas e de cuecas puídas, punhetam em solos e formam casais de dois ou mais. São homens que fazem a folia no matagal sob ataque de mosquitos e outras zigueziras tropicais. Levam a vida arriscada mas o sexo é seguro. Parecem familiares, se estivessem em Pernambuco seriam carinhosamente chamados de cafuçu como não estão recebem outros nomes (thugs, papi, tio). São rapazes prontos para assumir o poder com a doçura de fruta no pé e suco no canudo.
Authentic Footballers é outra produtora de filmes online especializada em mostrar jogadores de futebol da América do Sul de corpo inteiro e desinibidos, supostamente autênticos. Enquanto o futebol permanecer tão popular, praticá-lo for tão simples, barato e predominar o espírito esportivo, haverão muitos homens dispostos a aparecer endurecidos e ternos nas telinhas. Os times de várzea e as terceiras divisões estão cheias de rapazes ambiciosos sem chances de chegar aos grandes clubes mas com chances de sucesso no pornô gay. Encontrar uma produtora que os promova, descobrindo neles outras habilidades, é uma sorte que, se bem aproveitada, pode vir a sustentar uma família inteira. O material produzido pela Authentic Footballers é um lenitivo para todos aqueles que têm sonhos eróticos com astros feito Kaká e Cristiano Ronaldo. Convinha também fazer filmes com toureiros.
Papi Thugz é um site que também merece atenção porque mistura com equilíbrio todas as matizes latinoamericanas com um nível de profissionalismo acima da média, fato que denuncia imediatamente como sendo produções da Flórida. O site apresenta filmes curtos, em estúdio ou ao ar livre, em duplas e surubas, com tipos bombados recrutados em Key West e adjacências. O episódios como Devil Fucks the Goodness Out of Angel é uma fantasia cujo motivo pouco tem de latino, mas Osian e Moyea, os protagonistas, são o supra-sumo da latinidade.
A Jorge´s Gang também é uma produtora de filmes online que está começando agora mas com um trabalho promissor. Traz todas as variações do tipo latino, com predominância de negros, sem especificar o local de recrutamento das peças. O estilo é mais audaz, pesado, assustador porque a violência parece autêntica e não há como não relacionar, de alguma forma, as situações e os personagens da Jorge´s Gang com o que escreve o escritor colombiano Fernando Vallejo. O estilo da produtora é intencionalmente amador, profissionalismo dos modelos é de michê de rua e o sexo é bareback e sua variações. A filosofia do site resume-se a regra dos três F´s: Find ´Em (fisgue-os) Film ´Em (filme-os) e Fuck ´Em (foda-os). Os serviços destes sites custam em torno de 25 dólares americanos por 30 dias.
É comum que filmes façam paródias de outros filmes, de obras literárias ou de situações reais, como o excelente Revolución Sexual (All Words Video, 2004), dirigido por Rafael, uma versão pornô gay da revolução mexicana de 1912, com Viktor Perseo fazendo o papel de Pancho Villa. Mas ainda não havia ainda aparecido uma produtora que parodiasse outra no nome, fazendo o estilo inverso. A Belo Amigo apareceu recentemente com filmes distribuídos pela French Connection, um acinte à bem sucedida produtora tcheca Bel Ami e seus rapazes loiros e lindos. Outro acinte, desta vez aos monarquistas, é a marca da produtora, inspirada no brasão da dinastia Orleães-Bragança. Talvez em reconhecimento à Princesa Isabel, a produtora acabou homenageando toda a Casa Imperial Brasileira. A Belo Amigo colocou Florianópolis no circuito internacional dos filmes pornôs gays com a série Floripa Adventures (1 a 4), dirigida por Nelson Oliveira. A capital catarinense merecia filmes melhores mas os gays da ilha não perdem uma ocasião de jactar-se dessa série como um feito só superado no Brasil por São Paulo e Rio.
Muscle Fuckers é um filme sem malandragem que mostra nos detalhes a ascensão social dos menos favorecidos brasileiros. Lá estão as ostentações de prosperidade: a casa financiada, a textura acrílica berrando na parede, a piscina, os móveis e eletrodomésticos das Casas Bahia, cuecas novas, cordão no pescoço e o corpo bombado na academia em vez de no cais do porto e na roça. O sexo é bem comportado, pau no cu e na boca por merecimento pelo esforço da ascensão e não por vadiagem. O garanhão Junior Pavanello, Sylvio Arcanjo e outras beldades brasileiras estão no elenco. Dirty Kinky Stories, dirigido por Edfran Júnior, é outro filme da Belo Amigo sem malandragem. Os personagens são banhistas de Santos e São Vicente caçando na praia e se comendo em apartamentos ou nas pedras, onde há uma seqüencia difícil de realizar em lugar público, um trio que faz dupla penetração na praia. A safadeza sai do litoral e vai para o interior, Adriano Victor faz um peão boiadeiro, daqueles que se vê em Barretos, e toma no cu com Kauã Martins. Antes do filme acabar a ação retorna ao litoral para uma última trepadinha.
A Belo Amigo ainda fez dois filmes de favela: City of Boys 1 e 2, uma série de cinco filmes chamada Futebol e lançou ano passado Big Dick Club Brazil, com um elenco cheio de figuras conhecidas, dirigido por Manuel Suave, um diretor estreante que parece ter se especializado no gênero bareback, já tendo lançado Bareback Island (Street Corner Studios, 2007) – não confundir com The Big Dick Club (Falcon Studios, 2006), dirigido por Chris Steele. A série Capoeira, da French Connection, já está no 29º volume sendo, até hoje, a mais longa série do pornô gay mundial, 99% cafuçu, inteiramente rodada no Brasil e dirigido por Nelson de Oliveira, o mesmo de City of Boys 1 e 2, de 2004, dois filmes cheios de "mano", daquele tipo que deixa a muita gente êxtase ante a possibilidade de um contato imprevisto num bêco escuro de uma cidade grande. Os atores são versáteis e tesudos, com paus e bundas acima da média. O gay malandro é uma atualização da figura mitológica surgida no Rio e disseminada pelo país inteiro. É um filme com muitos tricotês porque essa gente não sabe agir sozinha. O roteiro tenta, com pouca aptidão, contar uma história sobre tráfico e consumo de drogas. Há traição e vingança entre os membros de uma gangue, tortura policial com muito sexo e só um morto. A favela aludida no título parece ser toda a cidade de São Paulo, a civilização brasileira ou todo o continente numa marginalidade sem fronteiras.
Na linha latino-marginal a Latino Fan Club lançou Criminal Behavior (2008), produzido e dirigido por Brian Brennan, cuja ação se passa numa penitenciária de Nova York comandada por um chefão chamado Warden Wankoff que agencia os prisioneiros em programas especiais de ressocialização. É um filme com um humor sutil, muito sexo, ativos selvagens e de pau grande e passivos voluntariosos. São prisioneiros muito bem comportados, perfeitos para casar. O super-dotado Macana Man e os médios-dotados Domino, Swift e Bori dão verdadeiro show. Pros & Cons (2008) é um filme dirigido por Rob Greco, distribuído pela Latino Fan Club e produzido pela Real Urban Men, especializada em negros, muitos deles imigrantes do Caribe, América Central e alhures. Libra é um passivo com pau grande, estilo e charme, dá na prisão e fora dela continua dando para sobreviver. Paris e Afrikan Prince são dois ativos que beiram a perfeição. Esses dois filmes ambientados em prisões e com presidiários vão fazer o gosto dos fãs da série Oz (HBO, 1997 – 2003).
Garotos de Favela (Clair Productions, 2008) mostra, de forma realista, a disposição do povo brasileiro já vista em outros filmes da mesma produtora (Puta!, La puta do Brazil, e Brazil Gonzo), já comentados aqui. Stéphane Moussu retorna com mais um filme de sexo na varanda com mulatos inzoneiros. A locação é a mesma de La puta do Brazil mas dessa vez não há a participação de Laurent, assim o elenco fica inteiramente verde-amarelo. Com a ausência de Yago sobrou espaço para que outros brasileiros brilhassem, mas eles não souberam aproveitar a oportunidade, a direção não deu espaço e não foi escrito nenhum papel cuja ação fosse além de uma seqüência de sexo. Inteiramente bareback, são transas que culminam com suculentas gozadas na boca e muito lambuza. Além do sexo, interessa notar como a favela se consolidou parte fundamental da cultura brasileira, quando deram vez ao morro ele não perdeu a vez. Embora o filme não seja ambientado nem exiba imagens de favela, os rapazes que atuaram nessa produção são tão autênticos que dispensam as declarações publicitárias que afirmam que o elenco vive na mais violenta favela carioca, Vigário Geral (quem terá sido esse vigário?). A estrela não é um ator em particular, mas a entidade popular dos homens da favela num filme que tem menos notas que o samba de uma nota só. Convinha também fazer filmes com filhinhos de papai da Zona Sul.
Os filmes da French Connection e da Clair Productions são fundos franceses bem colocados no Brasil. Essas produtoras fazem um papel intermediário entre as produções de menor e de maior orçamento, como os filmes Roman´s Holiday (Falcon Studios, 2008) e Skin Deep 1 e 2 (Sarava Productions, 2008) que com orçamento folgado patinam feio no regionalismo pornô gay.
Skin Deep 1, dirigido por Kristen Bjorn, é longo, previsível e maçante. Ele e sua seqüência, Skin Deep 2, totalizam 5 horas intermináveis de exibicionismo artificial. Nesses vinte anos de careira como diretor, iniciados aqui mesmo no Brasil com Carnival in Rio (1989), o estilo de Bjorn só mudou na contenção da incontinência galática. Seus modelos posam para a câmera de uma forma tão pouco espontânea que parecem figuras de cera do Museu de Madame Tussauds. O cenário é inteiramente casa grande em vez de senzala, parece interessar-se mais pela minoria do que pela maioria dos latinos. Uma villa senhorial e um vilão (Etienne Cendras), uma espécie de Papa Doc poderoso, são o núcleo do filme. Um local esquisito, como observa Daniel Marvin ao chegar na villa em busca de “Vaga para Caralho”. O vilão possui vários serviçais tão ou mais posudos que ele. Cada cena de sexo é composta como se fosse para Leónidas nas Termópilas (Jacques-Louis David, 1814). As frescuras continuam nos detalhes do figurino e da decoração que nem mesmo as fodas animadas de um ator como Ricardo Safado nem as peripécias do casal liberal Pedro Andreas e Daniel Marvin conseguem amenizar. A busca por um corpo perfeito leva ao desastre de incluir no elenco atores deformados como Jordi Casal e Alex Ribeiro. É um filme que mostra uma latinidade esnobe que não dá tesão.
Roman´s Holiday, dirigido por John Bruno, é um filme de viagem com seqüências de sexo intercaladas por cenas externas mostrando os pontos turísticos de Buenos Aires. Não fossem as gozadas que Roman Heart leva na cara este filme estaria reservado ao esquecimento. Entretanto não deixa de ser um filme da onda latina feito por uma produtora cujo estilo é qualquer um que a mantenha entre as maiores e melhores. No interesse de manter sua posição, a Falcon já fez filmes em outras locações exóticas, como o Leste da Europa, quando aquela parte do mundo produzia astros pornôs em escala industrial e já se arriscou também na Austrália quando houve a olimpíada de Sidney. Agora a produtora volta suas lentes para a América do Sul, não para o Brasil, onde talvez considere o país já demasiadamente explorado, mas para a eternamente donzela Argentina. O elenco de argentinos conta com reforço de dois brasileiros, Pedro Andreas e Daniel Marvin, a melhor coisa que Roman Heart encontrou na cidade, não por acaso essa é a última seqüência e a capa do filme, Roman levando vantagem em dobro.
O pornô latino não é apenas estilo, é fato. A realidade aqui é sacana em todos os sentidos e a sua representação é amena, chocante ou surreal. Esses filmes têm pouca história enquanto sua fonte tem muita história. Algumas prosaicas como as conversões ocorridas com os atores Diego De La Hoya e Julio Vidal. La Hoya, um portoriquenho, largou a formação de pastor pentecostal para ser ator pornô enquanto Julio Vidal (Giuliano Ferreira aka Juliano Ferraz), um brasileiro, fez o caminho inverso, criando a primeira XXX Church brasileira, o Ministério Brasa do Altar, no interior de São Paulo. Mas de todas as histórias a melhor certamente é essa sobre o triunfo do pornô gay onde todas as demais tentativas de integração latino-americanas fracassaram.
Saiba mais:
Amazona Boy
Authentic Footballers
Chris Geary on the web
Clair Production
Falcon Studios
The French Connection
Jorge´s Gang
Kristen Bjorn
Latin Inches Magazine
Latino Fan Club
Papi Thugz
que delicia esses garotos, adorei o último que parece que tá vendo um pirulito gigante.
ResponderExcluirParabéns!
ResponderExcluirPornô latino é show³³³³³³³!
E seu texto está muito bem escrito!
Quando se fala em Amante latino eu lembro de Rodolfo Valentino.
ResponderExcluirquero voces pra mim pode se ou ta dificiel
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