sábado, 20 de dezembro de 2008

Mensagem aos lusófonos pornófilos

Mensagem aos lusófonos pornófilos
Dêem o melhor de si

A mensagem anual "urbi et orbi" enviada por Boris Transar aos lusófonos pornófilos já se tornou uma tradição embora seja moça de apenas um ano. Produtos de Pernambuco nascem tradicionais, como se tivessem mais anos do que tamanho, ao contrário do que se espera dos h
omens, que devem ter mais tamanho do que anos.


Ano passado, no corpo da mensagem, foi possível publicar os nicks de todos os pornófilos que até então constavam no mailing do blog porque o grupo reunia poucos amigos. A situação mudou quando a quantidade de leitores aumentou de 20 mil, em 2007, para mais de 250 mil, em 2008. Embora este seja um número expressivo no nicho específico da blogosfera em que Boris Transar se insere, pretendemos superá-lo a cada dia.

Confirmaram-se os "bons fluidos" desejados há um ano atrás de modo que citar novamente o nick de todos que agora fazem parte do mailing tornou-se impraticável. Ainda mais quando alguns leitores fazem questão de manter a identidade no mais absoluto sigilo.


Atribui-se a razão do aumento da quantidade de leitores à qualidade do trabalho feito por Boris Transar e por Membro Desonesto, incansáveis e obstinados blogueiros. A dupla deu o melhor de si aos leitores e entre eles fizeram troca-troca de atributos.

Não existe uma receita única para incrementar a audiência na internet, mas dar o melhor de si certamente é uma delas e, neste caso, foi aquela adotada desde o último mês de fevereiro pela dupla como parte de uma maneira mais porfiada de encarar o blog.


Para ilustrar a mensagem deste ano poderiam ter sido criadas muitas imagens, mas o designer criou apenas três exemplificando, aleatoriamente, o que cada pessoa pode eleger de si como atributo para compartilhar com o próximo e com o remoto.

Se o seu atributo não é nenhum destes três da anatomia masculina que aparecem nas imagens, faça a sua própria mensagem mostrando qual é o seu, divulgue e compartilhe. Mostre a todos que você é uma pessoa Web 2.0 ou superior.



Boris Festas e Feliz Transar.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Dureza que desagrada

Dureza que desagrada
A crise econômica e o pornô gay

Com quantos paus? e Primeiro Emprego (publicadas em novembro de 2006), são matérias que retratam um período de expansão econômica mundial e prosperidade em países periféricos que beneficiou, inclusive, as produções e o consumo de filmes ponôs gays. Fundos brasileiros (publicada em abril de 2008), é uma matéria que, entre outros assuntos, trata do grande fluxo de capital estrangeiro que foi investido em filmes com atores e cenários brasileiros. Pode ter chegado ao fim este período em que muitos paus foram investidos, muitos empregos foram criados e muitos prosperaram depois que apareceu e em pouco tempo tornou-se freqüente um substantivo que não é nem palavrão nem uma nova peste perniciosa: "subprime", os tais créditos de alto risco que, pela própria natureza, deram forfait.

Pelas notícias da área econômica, ano que finda neste mês de dezembro terá menos festas do que o que se esperava quando iniciou. Até aí nada demais, planos que não sejam utópicos não merecem ser feitos. Contudo à medida que são executados, são ajustados à realidade e, no final, o saldo quase sempre é positivo. Menos em 2008. Numa economia globalizada, estando à economia Norte-americana em recessão há um ano não há como o mundo ficar imune ao contágio. A situação atual to
rna os planos para o próximo ano pouco auspicioso. Se no próximo ano o mundo tiver de reajustá-los para um cenário mais realista, que seja a dos dias de luxo e riqueza e não dessa débâcle que já atingiu até as estatísticas de acesso do blog do Boris Transar e as doações desinteressadas dos leitores generosos no banner do Pag Fácil (coluna à direita).

No último dia 25 de novembro o portal de notícias Gay Porn Times publicou uma matéria intitulada
Financial Woes Hit Gay Adult (Desdita Financeira Atinge o Pornô Gay). As produtoras que o autor J. C. Adams considera fazer parte do grupo das Nove Grandes – o G9, Bel Ami, Channel 1 Releasing, COLT Studio, Falcon Entertainment, Hot House Entertainment, Lucas Entertainment, Raging Stallion Studios, Sarava Productions (Kristen Bjorn) e Titan Media, já estão passando por dificuldades idênticas a qualquer outro setor economicamente ativo. Embora oficialmente nenhuma delas tenha anunciado alguma perda, há indícios que estão ocorrendo nas grandes, pequenas e médias produtoras, bem como nas outras mídias, como nas publicações, nos serviços online, na indústria de acessórios, nos serviços e no comércio.
Como o bolso é muito perto do sexo, a crise que atinge um pode facilmente atingir o outro. Talvez essa imagem seja boa o suficiente para que se compreenda como a quebradeira financeira internacional também atingiu o pornô. Os empresários tentam salvar os investimentos e os anos de trabalho às próprias custas, forçados pelas circunstâncias e pela natureza da atividade, considerada não-essencial. Eles não se beneficiaram diretamente com os planos de salvação anunciados pelos bancos centrais dos países atingidos, apenas indiretamente estes planos poderão lhes propiciar algum benefício. Sem outra opção, os pornô-empresários tornaram-se exemplo de liberalismo não apenas sexual, mas também em relação ao capital. Apesar do volume de recursos que o setor movimenta, e talvez por isso mesmo, a solução salvacionista está nos próprios fundos e não nos fundos alheios.

A matéria de J. C. Adams foi escrita a partir do vazamento para a imprensa de uma mensagem enviada pela FabScout Entertainment a seus modelos na qual a produtora adverte sobre o encolhimento do mercado que atingiu a todas indistinta
mente. A FabScout Entertainment, seguindo o mesmo dogmatismo capitalista nas formas de solucionar uma crise adotado pela Companhia Vale do Rio Doce, fez com que os primeiros a sofrerem com a retração da economia fossem os trabalhadores, que também são os últimos a beneficiar-se com a expansão. A mensagem da FabScout foi uma maneira calhorda de mandar algumas centenas de belos marmanjos, sarados e tarados para o olho da rua. Agora, com eles saracoteando daqui pra acolá, há a possibilidade agradabilíssima de que a vida sexual que se leva da forma tradicional, sem a intermediação da mídia, pode, nesses tempos de crise, ter sido afetada de forma positiva. O velho trottoir, que nunca desapareceu, mas perdeu tantos adeptos, pode vir a ser uma opção ao prazer audiovisual que parecia reinar absoluto num mundo onde o olhar transformou-se numa forma vantajosa de consumir.

Os homens que dirigem a economia do mundo a partir de ruazinhas pouco ensolaradas, como Wall Street, estão longe de serem aqueles de gravata que se vê nos filmes produzidos pela Men at Play, personagens inspirados nos yuppies dos anos 80, os jovens profissionais, urbanos e bem sucedidos, defenestrados por uns e admirados por outros. Não causará estranhamento se os filmes que exploram o tesão pelo tipo executivo começarem a exibir homens menos formais, usando um fato roto, um sapato com o verniz gasto e uma meia puída. Muito menos estranho será se o gênero se tornar ainda mais popular. Diante das fantasias econômicas que desabam diante dos fatos reais, se pode afirmar que, comparativamente, também o pornô é menos ficcional que a economia. Essa constatação reforça a tese já defendida neste blog de ser o filme pornô uma espécie de documentário. Um leitor, inspirado na situação, enviou a este blog um roteiro de filme em que a ação se desenvolve num ambiente destruído por uma grande crise econômica. A sinopse diz que “todo o sistema foi destruído menos o tesão. Com o fim do capitalismo implanta-se o socialismo falocrático. Nas cidades em ruínas, hordas de homens fazem sexo bareback entre os escombros. Eles encontram firmeza e liquidez sentando o rabo em picas cuja vigor só se compara com os sonhos de risco zero”. O autor informou no final que este roteiro está à disposição de qualquer produtora interessada em realizá-lo.

A última crise, quiçá a única, que se tem notícia no mercado de produção e consumo do pornô gay foi a que houve imediatamente depois do surgimento da AIDS. Perdurou todos os anos de 1980 até o fim dos anos de 1990 e não foi conjuntural, foi uma crise localizada que coincidiu com o período dos presidentes Republicanos Ronald Reagan (1981 a 1989) e George H.W. Bush (1989 a 1993), quando grupos de pressão aliaram-se ao Governo dos Estados Unidos em uma cruzada moralista contra o pornô. Nem mesmo a “bolha da internet” e os atentados de 11 de setembro, em 2001, tiveram impacto significativo no setor. Do final dos anos de 1990 até 2008 o mercado viveu estabilidade e expansão que foi determinado pelo surgimento de tratamento para a Aids, pelo crescimento mundial médio acima dos 5% ao ano nos últimos anos, pela popularização da internet e das mídias digitais, assuntos já tratados neste blog. Os conservadores norte-americanos tiveram outros inimigos com quem se preocupar, de modo que o pornô pôde prosperar à sobra de todas as desventuras de George W. Bush.

Vivemos um período em que uma parcela impressionante e cada vez mais numerosa de indivíduos substituiu as relações humanas pelos prazeres virtuais. Neste terreno o pornô conheceu um ciclo de crescimento tão estrondoso que, em termos numéricos, é difícil comparar até mesmo a outro grande período, que foi o da popularização do vídeo doméstico e das fitas VHS. Contudo, diante da atual crise dos mercados globais, o que se poderá observar no setor é o fechamento de produtoras, corte dos lucros, produtos e serviços oferecidos a preço de custo e, mesmo assim, não encontrando compradores, cancelamento de filmagens, dispensa de equipes, ré-lançamento de sucessos e edição de coletâneas para não deixar as prateleiras vazias.

Soluções inovadoras podem ocorrer em épocas de crise. Há quem diga que depois da tempestade vem a bonança e que em épocas de crise as pessoas querem fugir da realidade, se afastar
dos problemas reais, consumindo mais fantasia. Se querem fantasia, a economia já provou ser uma fonte abundante. Se preferem algo mais radioso o entretenimento pode ser um dos setores produtivos que mais se beneficie. Que seja assim, pois não é essa a dureza que as platéias gostam de ver.

A Gazeta Mercantil publicou em setembro que, no longo prazo, a crise nos bancos americanos, muitos dos quais financiam os estúdios de Hollywood, pode ter repercussões no mundo dos grandes estúdios. No começo de novembro aconteceu na Califórnia o American Film Market, um dos maiores evento de negócios do cinema do mundo, no qual foram dadas notícias pessimistas tanto para as grandes produtoras como para as independentes. Filmes pornôs não fazem parte deste universo, trabalham com orçamentos infinitamente menores até se comparado às produtoras independentes de Hollywood. O problema dos pornôs não é tanto a escassez de financiamento para a produção, e sim o pessimismo que contagia os consumidores e causa a retração das vendas. O pornô trabalha com volume de lançamentos, poucos lançamentos de qualidade e não se faz estoque como forma de não perder vantagem diante da pirataria e do compartilhamento P2P.

Afirma-se que a atual crise só tem parâmetros como na crise de 1929. Como não havia um mercado de entretenimento pornô naquela época, como existe hoje, é difícil prever qual o impacto terá uma crise econômica profunda. O mesmo não é impossível de ser feito em relação aos filmes de Hollywood, que na crise de 1929 já existia e faturava muito. Tocqueville (1805-1859) afirmou algo sobre a Revolução Francesa que cabe bem ao momento atual: “o passado não ilumina mais o futuro e o espírito move-se nas trevas”. Portanto, grande parte do que a imprensa afirma é mera conjectura que este blog procura evitar. Ainda não parece certo, nem justo, que os filmes pornôs pagarão por esta crise na igual proporção daqueles diretamente envolvidos, contudo nos obrigamos a manter a esperança de que os filmes pornôs sentirão menos o impacto da crise porque, até onde se sabe, diferente de Hollywood, eles não possuem participação de bancos nos seus orçamentos, seu esquema financeiro está à margem da jogatina imoral dos “subprimes”. Finalmente, que essa crise não impeça que a visão, o sentido que de uns tempos para cá foi transformada em órgão sexual substituto, não fique cega.

Talvez seja broxante findar o ano com um assunto deste em pauta. Cont
udo, teria muitos motivos para ficar de pau duro um criolão que, em 2009, na fila de uma casa lotérica, ficasse atrás de um executivo gostoso da Petrobrás que estivesse lá pagando uma parcela da amortização do empréstimo obtido na Caixa Econômica Federal. Há nesta situação um argumento para desenvolver um roteiro, rodar um filme bem brasileirinho e mandar a crise para as cucuias.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Chili porn

Chili porn
Bareback juvenil não-escatológico

Não é novidade para os leitores desse blog o quanto os filmes pornôs gays latinos têm feito sucesso pelo mundo a fora. De tanto estes filmes voltarem à pauta nos últimos tempos os leitores podem pensar que Boris Transar especializou-se no assunto e até já recebe uma bolsa de estímulo à pesquisa do CNPq. Ledo engano. As pesquisas no laboratório de pornologia prosseguem, mas elas são às expensas do meu cofrinho, embora eu aceite doações desinteressadas. Quem estiver habilitado é só clicar no banner do Pag Seguro, à direita, e seguir as instruções.

No início era o verbo, depois vieram os deuses latinos, e a lista inclui vários deles citados na matéria Amante Latino, publicada no mês de setembro. Aquela lista nunca estará completa porque a cada dia aparece um astro novo, como o espetacular argentino Marco Blaze (aka Marco Vega) ou porque lembramos de incluir um veterano que, por descuido, ficou de fora, como o mexicano de pau inconfundível, Dean Phoenix. O sucesso desses atores ensejou que pouco tempo depois fossem feitos filmes apenas com latinos no elenco.

Os filmes latinos começaram a chegar aos catálogos há bastante tempo, considerando o pioneirismo do trabalho de Kristen Bjorn, iniciado no Brasil há vinte anos atrás. Mas só a partir do final dos anos 1990, quando as populações de cidades da Europa e dos Estados Unidos se tornaram
o latinas quanto São Paulo, La Ciudad de México, Bogotá ou Buenos Aires, é que este subgênero viveu seu boom. Filmes pornôs gays fazem parte da cultura urbana, por esse motivo é difícil pornolizar países que, embora sejam populosos, são predominantemente rurais, como os africanos e asiáticos, locais onde também não há liberalismo político nem econômico. A virada da situação sócio-econômica da América Latina permitiu que essa indústria do entretenimento se estabelecesse aqui e facilitou a chegada das produtoras transnacionais.

Uma dessas produtoras é a Rainbow Movie, um braço da RainbowMedia, uma empresa holandesa, especializada em entretenimento orientado para o público gay de todas as idades, que produz e distribui filmes de vários gêneros, sendo os filmes latinos um dos produtos de maior aceitação no mercado. Bareback México Twinks (Rainbow Movie) é o primeiro filme de uma série intitulada Mexico Series. É um filme modesto no orçamento e no resultado, mas auspicioso na pretensão. Pode ser um filme-piloto de sondagem de produção e de mercado. Se bem sucedido, caso a produtora tome um pouco mais de cuidado com questões técnicas, pode estar surgindo uma nova série de filme bareback juvenil não-escatológico comparável, ou até superior, ao resultado que Vlado Iresch tem conseguido para a AVI Production, na República Tcheca, ou Rolf Hammerschmidt para a Hammer Entertainment, também no Leste Europeu.

Europeus e americanos não podem afirmar que o exotismo da paisagem natural e humana de um filme rodado no México, em 2007, lhes cause o mesmo estranhamento de outrora porque em muito pouco a paisagem destes filmes difere daqueles que são feitos em qualquer lugar do mundo. No modo de produção e distribuição difere menos ainda. Não esperem encontrar em Bareback México Twinks alguma identidade nacional mexicana que não seja na particular aparência física dos atores que exibem todas as variações das raças que formaram o país. Alguns filmes pornôs gays se prestam com perfeição para retratar essa homogenização cultural que torna grande parte dos lugares do planeta indistintos. Neste, por exemplo, os temas do folclore e da arte popular do México estão completamente ausentes, os herdeiros de Montezuma estão irreconhecíveis. Já se acabou o tempo em que o México era o cenário adequado para as fantasias de Sergei Eisenstein (1898-1948), Luis Buñuel (1900-1983) e Jean Daniel Cadinot (1944-2008), só para citar alguns mestres da cinematografia que lá chegaram com idéias na cabeça e câmera no tripé.

Quem estiver interessado em filmes com maior autenticidade e cultura mexicana deve procurar pelos filmes da Mecos Film, que surgiu recentemente dizendo ser a primeira “con un proyecto definido y de calidad, orgullosos de mostrar la variedad de los hombres de México, sin miedo a presumir nuestra cultura y nuestra cachondería”. La Putiza (Mecos Film, 2004) cumpre perfeitamente os objetivos culturalistas da Mecos. É um filme interessantíssimo de "lucha libre" gay, com toda aquela conhecida indumentária e máscaras usadas nos ringues. Foi ganhador do Heat Gay 2004, em Barcelona, Espanha, nas categorias Melhor Filme e Melhor Roteiro. La Verganza (Mecos Film, 2003) é outro filme do catálogo que segue a linha folclórica de La Putiza. Estes filmes possuem na embalagem um design gráfico inspirado no rico ornamento do artesanato local. A série Seleccion Mexicana é menos folclórica, já está no terceiro episódio e mostra os testes com rapazes que se candidatam a uma vaga de ator na produtora. É na Mecos Film que se pode encontrar os herdeiros Montezuma com algum traço pré-colombiano misturado à cultura popular e de massa.

Seja num filme culturalista de uma produtora local ou num filme globalizado de uma produtora transnacional, o que há a ser comentado é a entrada do México no circuito pornô gay mundial, cuja falta só era explicada por conta da influência da religião católica no país. Razão que também explica como uma numerosa comunidade gay permaneceu com os hábitos comportamentais e de consumo reprimidos por tanto tempo.

A receita mexicana de um chili porn começa com um muchacho numa tarde de sol percorrendo as ruas da cidade. Quando ele começa a catar homem pelo caminho até esgotar a capacidade de lotação de um Volkswagen, pode ter certeza que ele não está apenas socializando essa máquina que torna a cidade do México insuportável. Sua camaradagem pelo menos não ameaça nem de longe aumentar a população. Na bunda não fecunda e ele tem a graça da Virgem de Guadalupe.

O passatempo mais freqüente de alguns tipos de bofe é lavar o carro do pai no quintal de casa, uma tara que só se compreende se for feita em grupo e com muita esfregação. O filme retrata como se pratica isso debaixo de um sol escaldante. Três mestiços, cada um leva a sua mangueira, e a insuspeita ação higienizadora da lataria vira uma putaria que poucas vezes se viu igual. Um deles usa o cabelo como Gustavo Dudamel, o tesudo maestro venezuelano, e a baqueta não é menos talentosa que a do regente dos jovens músicos pródigos da orquestra bolivariana. Ele é logo abocanhado por um expedito nas artes de chupar pica. O terceiro é um Raimundo sem rima. Nessa seqüência temos os dois melhores atores do filme contracenando, mas não se pode dar-lhes o crédito devido por conta da insuficiência de informações do filme. Mas os apelidos de Dudamel e de Expedito lhes cai bem. O Expedito tem uma pica bem proporcionada no sentido longitudinal. Picas com esse design proporcionam um excelente desempenho mecânico durante a penetração, e são as preferidas dos fotógrafos. Dudamel é o primeiro a sentir toda a envergadura da ferramenta do Expedito, depois é a vez do Raimundo. Versátil, o Expedito deita no capô para fazer um frango assado na chapa quente do Volkswagen. A lavagem do carro se encaminha para um final com direito a gozadas recíprocas na boca, como sói acontecer nos melhores filmes bareback.
Uma partida de totó se transforma uma disputa apertada quando os dois jogadores fazem o possível para receber pau no cu como prêmio. Esse jogo, à semelhança de lavar o caro do papai, é outra maneira de passar o tempo que só se compreende se for feita em grupo e com pegação pesada. A cada gol uma peça de roupa é retirada e no fim o jogo endurece e tem prorrogação. Os jogadores são o Expedito da primeira seqüência e um rapaz de rosto afilado. Nessa seqüencia dá para reparar como o Expedito é atraente, simpático, baixinho, coxudo, bundudo, um tipo de talento que pode despontar numa carreira promissora. O rapaz afilado não o deixa escapar, aproveita a potencialidade traseira e dianteira sem parcimônia. O Expedito se posiciona para a investida e toma no cu com uma expressão de prazer inaudita.
Dois muchachos fazem a terceira seqüência trepando no telhado da casa com muita mestria. O ativo é um comedor com boa ferramenta, o passivo é o Raimundo da primeira seqüência, aqui num desempenho muito superior. Faz um tipo dedicado à causa, parece entrar em transe quando toma pica. Sem luxos, eles são criativos no uso dos parcos recursos cenográficos de uma laje. Fazem de uma unidade condensadora de ar condicionado uma cama e o ativo se agarra onde pode para conseguir uma penetração mais vistosa. Por esforço e graça divinas os protagonistas oferecem ao fotógrafo ângulos que ele aproveita com precisão. O Raimundo e o Expedito, quando no desempenho de seus papéis passivos, atuam como se estivessem sob efeito de peyote. Oxalá esteja longe o dia em que as autoridades de plantão passem a exigir dos atores dos filmes pornôs gays exame anti-doping.

Dudamel e o motorista do Volkswagen fazem a última seqüência no gramado candidamente pegando sol num bote inflável usado como piscina. Brincadeira de criança que acaba como disputa de adolescente. Dudamel aplica-lhe a batuta com vigor. O motorista, como já foi dito, tem a graça da Virgem de Guadalupe quando está ao volante, mas quando senta numa pica toma ares de Messalina. Ele retribui os favores de Dudamel com uma leitada facial muito farta.

Os astros do elenco são tratados pelo prenome: Dano, Mauro, Pedro, David, Saul, Noé, não se sabe quem é quem e o diretor nem assinou a obra. Entre os operários do pornô gay existem astros de todas as grandezas, idolatria, anonimato e até obras apócrifas. O que se testemunha em Bareback México Twinks é a singeleza, o vigor de quem ainda não completou a maior idade a não ser na burocrática papelada que agora exigem deles, forçando-os a cometer fraudes obscenas. São franguinhos que já aprenderam, e estão ensinando aos outros, que o cu foi o último órgão da anatomia humana a ser educado socialmente. Sua fornicação é comprovante audiovisual que os sociólogos atribuem a uma habilidade adquirida, enquanto os geneticistas alegam ser nata. Quando eles chegarem a uma conclusão este blog quer ser um dos primeiros a divulgá-la.

Estes seis rapazes não devem ser os melhores mexicanos da galáxia, mas certamente eram os mais apetecíveis para um espetáculo de sexo que é tão próximo da realidade a ponto de provocar suspiros poéticos e saudades em alguém.


Saiba Mais:

Mecos Film website

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Neófitos nas práticas antigas

Neófitos nas práticas antigas
Bareback oral degustativo

O que distingue um filme “pornô” de um filme “erótico” que exibe cenas de sexo explícito é ausência do tripé formado pela chupada, metida e gozada presente no pornô quase invariavelmente nessa ordem. Essa estrutura narrativa, com três bases, foi estabelecida nos anos de 1970, em filmes gays e heteros, e permanece válida até hoje com pouca alteração. Logo depois o gênero ganhou o conceito irretocável de que filme pornô é todo aquele cujos protagonistas são as genitálias dos atores. Não há dúvida de que Swallow it straight boy (Cum Pig Men, 2008) é um filme pornô porque lá estão as genitálias protagonistas, mas este filme, lançado recentemente, simplifica a estrutura narrativa, reduzindo-a para apenas chupada e gozada. Engolir não faz parte da estrutura, é ornamento e luxo.

Pode a metida ser su
primida e um filme permanecer interessante? A resposta é afirmativa desde que mantenham pelo menos uma base de apoio, são os conhecidos pornôs cantilever, que os filmes solo exemplificam tão bem. Os filmes estilo bareback oral degustativo têm duas bases. Há a possibilidade de fazer bons filmes eliminando a chupada e exibindo apenas metida e gozada. O que parece impossível é eliminar a gozada.

Quem duvida da qualidade de um filme apoiado nessa estrutura deve assistir Swallow it straight boy para ter certeza de que se o filme perde um pornomilímetro aqui ganha outro ali e, no final, o espetáculo é compensador. O diretor Leo Greco, com poucos filmes na carreira, parece já muito seguro do que faz. Ele deu um chute nos traseiros e centrou a atenção em duas fantasias que o protagonista Lance Brady desenvolve na ponta da língua: a alegada heterossexualidade e na natureza mamífera do homo sapiens. A atenção não está na técnica de caça ou na garganta de Brady, tão profunda e hábil quanto à de Linda Lovelace, sem ser um caso clínico de anomalia anatômica nem uma versão pornô de Gargântua. As as qualidades físicas do intérprete apóiam as fantasias nas quais o roteiro se baseia. Brady e todos aqueles que hoje têm menos de 30 anos são filhos de mães e pais chupadores de pau que se formaram com as tele-aulas dos pornôs de antanho. Essa geração pode comprovar a teoria da evolução de Lamarck do uso, desuso e herança dos caracteres adquiridos, melhor do que ratos de laboratório.

O interesse por homens heterossexuais é uma fantasia recorrente do universo pornô gay que se explica quando se considera que eles nada mais são do que “gays virgens”. Esse interesse é o velho culto à virgindade, na opinião de muitos, deplorável. É numerosa a produção de filmes que garantem que os atores são de “fora do meio” como se houvesse aí alguma vantagem competitiva em relação aos que são “do meio”. Homens heterossexuais, em inglês coloquial, são denominados de straight, substantivo que pode ser traduzido para direito, reto, correto, honrado, honesto. Seu uso corrente faz supor que, para os anglófonos, todos os relacionamentos que não sejam o sexo entre homem e mulher são desviantes. Em nossa língua inexiste um termo coloquial para designar homens e mulheres heterossexuais. A palavra careta, uma gíria corrente no desbunde dos anos 70, nomeava os adeptos do sexo exclusivamente hetero e também aqueles que não possuíam vícios dignos de nota. Como a palavra straight não foi adotada pelo português ela precisa de tradução, ao contrário da palavra gay, que dispensa. Careta poderia ser a palavra mais adequada na tradução de straigh não houvesse seu uso se tornado tão pouco freqüente. Há quem reconheça certa heteronormatividade social no uso da palavra straighto percebida pelo uso irrefletido. O certo é que esse substantivo, no sentido em que é empregado, causa estranhamento para quem não está familiarizado com o idioma de Shakespeare. O título do filme pode ser traduzido, de uma forma “livre” e concisa, como Engole macho, com o verbo no modo imperativo, embora Lance Brady não encarne o papel de submisso, tampouco faça o contrário. Com aquele olhar de pidão, ele imprime emoção de ária a um boquete casual. De boca ele poderia dominar o mundo, desde que só houvesse homens.


O contato íntimo com fluido seminal deve ser feito com parcimônia, contudo é grande o interesse por parceiros que chupam e engolem, não sendo essa uma fantasia restrita às telas do pornô ou à certas práticas kamikazes. Na vida real a ausência desse mimo entre os parceiros pode até determinar o sucesso ou fracasso de um relacionamento. Essa sabedoria saiu da boca do povo para virar arte. Todas elas, menos arquitetura, representam o boquete. Quem tenha pelo menos um homem na vida sabe o poder do boquete. As publicações femininas começaram a dar amplo amparo teórico à essa prática não-procriativa de sexo. Numa época em que as relações são menos estáveis, as mulheres parecem ainda mais dispostas a artifícios para não perder o parceiro sem que seja necessário recorrer ao truque de usar Corega como gel lubrificante. Houve mudanças de hábitos, em vez da culinária, hoje o boquete é a maneira usual de pegar o marido pela boca. Há alguns anos atrás uma revista publicou uma matéria que afirmava que não há maior prova de amor do que o hábito de engolir o esperma do companheiro, o título da matéria era A dieta do amor. A dica número 160 do livro de Olivia St. Claire, intitulado 203 Maneiras de Enlouquecer um Homem na Cama (Ediouro, 1999), trata do assunto de maneira enaltecedora, em detalhes, com dicas valiosas, terminando por dizer que engolir o sêmen do amante é uma “oportunidade de (...) formar um elo muito especial com seu homem”. Não precisa ser mulher para acreditar nisso, em Swallow it straight boy, o personagem vivido por Lance Brady, straight a seu modo, está mais interessado em pegar a maior quantidade de parceiros galantes, dispostos a espalhar sêmen, do que em formar um elo “muito especial” com quem quer que seja. O único elo pretendido no filme é aquele que liga platéia ao espetáculo.

Lance Brady é um ator que está se lançado internacionalmente com esse filme. 21 anos, aparência mediana, cabelos negros, um glutão do Michigan que decidiu ir para Nova York, ele não faz o tipo caipira desconfiado, longe disso, parece estar inteiramente ambientado, andando pelas ruas, abordando homens. Quando não está nas ruas aborda-os por telefone e leva-os para um cafofo de dois vãos apenas. O ponto negativo é que Brady interpreta muito mal sua alegada heterosexualidade quando, no prólogo do filme, sentadinho na cama em pose de Cleópatra, ele fala de si mesmo, um dos poucos momentos em que não está com a boca ocupada. Ele narra como foi descoberto e começou a carreira de ator pornô gay. Ser um astro ascendente em plena Nova York é um sonho que muitos rapazes do interior desejam realizar. Para uma maior consistência do personagem talvez fosse mais adequado classificá-lo menos e inserir cenas dele com uma figurante, num papel não-sexual, para reforçar a ficção. É intrigante constatar que nem mal interpretados existem filmes com supostos "ex-gays" no papel principal. A questão de ser straight ou ser gay é delicada do ponto de vista do indivíduo assumir-se para si e para os outros; a amplitude da aplicação destas palavras às tantas práticas sexuais gera ainda mais confusão mas, do ponto de vista da interpretação, uns exercícios de construção de personagem poderiam resolver essa deficiência que não é exclusiva de Lance Brady.

Tampouco se pode dizer que Brady bebe no gargalo, ele é mais engolidor de pica do que de esperma. Sua atuação consiste em gargarejar, prolongando o lambuza para o delírio dos aficionados. Ele engole só um pouquinho, como um enólogo, não se empanturra do líquido apreciado, não apenas por uma questão de etiqueta que recomenda bons modos na frente estranhos, em qualquer filme pornô tem de sobrar algum líquido para o espetáculo visual. É possível que o leitor já tenha visto alhures engolidas mais convincentes, contudo, a particularidade desse filme, e o que nele interessa sobremaneira, é o nicho específico em que ele se insere, distinto dos filmes em que a engolida é a apoteose de uma metida na bunda. Distinto também do clima sórdido e do clima juvenil que até agora polarizaram as engolidas dos filmes bareback que existem no mercado. Swallow it straight boy certamente encontrará entre os inúmeros gays que possuem aversão, medo mórbido, irracional, desproporcional, persistente e repugnante ao sexo anal seu público específico. Os inúmeros gays que possuem aversão, medo mórbido, irracional, desproporcional, persistente e repugnante a esperma devem evitá-lo.

Brady é um gatinho e seu barbeiro teve o cuidado de fazer um cavanhaque que contorna a boca com um traço fino como quem desenha um alvo para que a pica não se desvie do centro. É um herói que emociona com os super-poderes de engolir pau até o nariz bater nos pentelhos, as bolas no queixo, em movimento coordenado e apnéia. No filme ele chupa mais de dez picas, uma de cada vez, sem fazer suruba. Os créditos só elencam Mario Ortis e “os homens quentes de Nova York”. Ele contracena com Ortiz, um veterano latino, versátil, que já fez filmes para muitas produtoras, como a Jocks (Quarterback Sack, 2003), afiliada da Falcon. Grandão, não-circuncisado que de uns anos para cá ganhou corpo e tatuagens que o tornaram um dos chubbys mais tesudos do pornô gay. A curvatura do pênis de Ortiz favorece a introdução goela abaixo embora a espessura desfavoreça quem não seja bangüela. A gozada dele é uma farta contribuição para o êxito galático do filme, perfeita para observar o processo de liquidificação de uma pica tão sólida. Entretanto a contribuição mais volumosa é também a mais inesperada, pois parte do cameraman que, na ocasião, confessa que estava a mais de uma semana sem gozar. Uma falha do contra-regra foi não ter colocado óculos de mergulho para proteger os olhos de Brady.

A produtora Cum Pig Men é um estúdio americano que, como Lance Brady e Leo Greco, também está no começo da carreira. O estilo que a produtora pretende dar aos seus filmes parece ser do tipo a não se ater muito às normas de higiene recomendados pelos médicos. Seus dois primeiros e únicos filmes são distribuídos no mercado pela Gay Reality Porn, cujo catálogo tem títulos como Butthole Bukakke (ThreshHold Media, 2008), Born to Swallow (Pumphouse Media, 2008) e até raros filmes lésbicos como Working Gilrz (Working Girl Vídeo, 2004), distintos de filmes heteros que empregam mulheres que transam entre si. O outro lançamento da Cum Pig Men é Coat my throat, também dirigido por Leo Greco, com Ryan Raz, um rapaz que chega a Fire Island, vindo de St. Louis, Missouri, para chupar todas as picas do balneário. Fire Island é, possivelmente, o maior ponto de pegação gay da Costa Leste americana, imortalizado em incontáveis filmes, desde de Boys in the Sand (Wakefield Poole, 1971) até a série interminável dirigida por Micahel Lucas intitulada Fire Island Crusing (Lucas Entertainment).

No começo de carreira a crítica pode ser menos rigorosa com atores, diretores e produtoras, dando-lhes crédito além da conta, a ponto de favorecer uns e outros sem, contudo, ser injusta. Essa frouxidão deve ser vista como um incentivo à cultura pornô. O surgimento da equipe da Cum Pig Men é promissor e merece ser apreciado porque revela os sempre bem-vindos neófitos das práticas antigas.

Saiba mais:
CumPigMen

domingo, 28 de setembro de 2008

Amante latino

Amante latino
Regionalismo pornô gay

O pornô gay é chic em muitas fitas, mas na hora de mostrar gente humilde ele sobe o morro e descem à mais baixa planície para dar a volta por cima da carne seca. Além da pioneira Kristen Bjorn, das já consagradas AMG Brasil, Latino Fan Club, Alexander Pictures, MachoFucker e OTB Vídeo, continua sendo lançado farto material com sob o signo da latinidade. Quem não curte ver gente humilde gozando precisa ler este post para aprender a curtir.


Já foi alertado, aqui mesmo, sobre a imprecisão da categoria latino que reúne filmes, estilos e biótipos de tão variados matizes. No laboratório de pornologia de Boris Transar dois jovens bolsistas verificaram que são circunstâncias externas e internas aos filmes que os reúne embaixo desse vasto sombrero categórico. Há uma tendência disciplinar de submeter o pornô, os fetiches e a identidade sexual a divisões, subdivisões e categorias mais ou menos estanques. A psicanálise procura explicar o fenômeno como um fetiche relacionado com a tauromaquia, tese refutada pelos espanhóis. Os etnólogos acreditam que semelhanças étnicas são aglutinantes, já os sexólogos defendem que as diferenças seduzem mais do que as semelhanças.


Os historiadores não sabem ao certo quando teve origem, mas se essa nação pornô latino-americana tivesse uma capital seria na Flórida (EUA), onde são prósperas as atividades da indústria pornô norte-americana que emprega muitos hispânicos. O Brasil ocupa uma posição de província autônoma. Com sua própria mão-de-obra, sua indústria e investimentos estrangeiros, é um interlocutor de peso, sem o qual a integração pela via pornô gay não se viabiliza, conforme declarou uma fonte do babado que não quis identificar-se. A onda de filmes pornôs latinos cresceu nos últimos anos e virou um tsunami, alcançando o objetivo que a geopolítica persegue sem sucesso: integrar as três américas num único continente sob uma identidade fraterna, distinta da imperialista e beligerante identidade ianque.


Hispânicos, lusófonos, criôlos, francófonos, monoglotas e trogloditas, na latinidade pornô gay cabem todas as cores de pele, todas as crenças e todas as línguas com pouco discurso. Os latinos dessa categoria não vêm do Lácio, pelo contrário, são produzidos aqui mesmo nas repúblicas bananeiras com qualidade inigualável. Encontrados facilmente desde o Canadá até a Patagônia, não são homens luxentos e têm boa aceitação no mundo todo, inclusive na Europa e no Oriente. Para evitar a cobiça alheia, em países muçulmanos os amantes latinos são disfarçados com véus como se fossem mulheres. No Japão o espanhol já é a segunda língua ocidental mais falada. Há anos que o inglês Chris Geary incluiu os cariocas no seu roteiro de interesse erótico planetário.


Latin Inches é uma revista mensal dedicada aos amantes do gênero que é como um almanaque ilustrado com rapazes que, na maioria, não têm a pele negra nem branca, possuem o muito apreciado tom médio, a solução entre os extremos. As principais premiações do cinema pornô gay criaram, de uns anos para cá, uma categoria exclusiva para abrigar os filmes que apresentem esses tipos de atores. Este fato estimulou países como a Colômbia e México, sem tradição na produção de filmes pornôs, a começar a produzi-los no padrão que lhes é próprio e a co-produzir com países europeus filmes de maior orçamento.

Astros como o americano descendente de portoriquenhos Tige
r Tyson, o dominicano Rick Martinez, os brasileiros Rafael Alencar, o casal Pedro Andreas e Daniel Marvin, o venezuelano Jean Franko, os argentinos Jeff Palmer, Tommy Lima e Max Schutler seguem a trilha traçada por Chad Douglas (Porto Rico, 1957 – EUA 1999), o primeiro grande astro latino, uma das maiores picas já vistas, considerado o maior ativo de todos os tempos. Esses astros são profissionais que faturam alto, possuem contratos com grandes produtoras ou tem sua própria produtora. Para atender um mercado tão amplo eles se submeteram a uma padronização física que quase eliminou a cara de gente humilde que eles tinham antes. Malhação, maquiagem, fotografia, tudo foi usado, em muitos casos sem sucesso, basta ver Rick Martinez. Ao mesmo tempo os filmes de outras produtoras preservam e ressaltam o aspecto natural dos modelos, de forma que não existem dois iguais nas suas imperfeições.


O Amazona Boy é uma produtora de filmes online especializada em modelos latinos da Amazônia e do Caribe. Foi a produtora que alçou Xunda ao posto de astro internacional, embora sua galeria de modelos possua outros talentos que igualmente poderiam almejar o mesmo destaque de Xunda, entre eles alguns indígenas que não dão moleza, muitos negros dispostos, mestiços desinibidos e brancos safados. O trabalho do Amazona Boy parece ação de ONG que dá meio de vida a jovens em atividades menos arriscado do que viver no mato ou na favela. A locação é na floresta que o mundo quer salvar. Os modelos são simpáticos e fotografados à beira dos igarapés parecem Oxum se banhando. Não merece nenhum crédito a advertência na página inicial do site que garante que eles têm mais de 18 anos. Despem-se das poucas roupas e de cuecas puídas, punhetam em solos e formam casais de dois ou mais. São homens que fazem a folia no matagal sob ataque de mosquitos e outras zigueziras tropicais. Levam a vida arriscada mas o sexo é seguro. Parecem familiares, se estivessem em Pernambuco seriam carinhosamente chamados de cafuçu como não estão recebem outros nomes (thugs, papi, tio). São rapazes prontos para assumir o poder com a doçura de fruta no pé e suco no canudo.


Authentic Footballers é outra produtora de filmes online especializada em mostrar jogadores de futebol da América do Sul de corpo inteiro e desinibidos, supostamente autênticos. Enquanto o futebol permanecer tão popular, praticá-lo for tão simples, barato e predominar o espírito esportivo, haverão muitos homens dispostos a aparecer endurecidos e ternos nas telinhas. Os times de várzea e as terceiras divisões estão cheias de rapazes ambiciosos sem chances de chegar aos grandes clubes mas com chances de sucesso no pornô gay. Encontrar uma produtora que os promova, descobrindo neles outras habilidades, é uma sorte que, se bem aproveitada, pode vir a sustentar uma família inteira. O material produzido pela Authentic Footballers é um lenitivo para todos aqueles que têm sonhos eróticos com astros feito Kaká e Cristiano Ronaldo. Convinha também fazer filmes com toureiros.


Papi Thugz é um site que também merece atenção porque mistura com equilíbrio todas as matizes latinoamericanas com um nível de profissionalismo acima da média, fato que denuncia imediatamente como sendo produções da Flórida. O site apresenta filmes curtos, em estúdio ou ao ar livre, em duplas e surubas, com tipos bombados recrutados em Key West e adjacências. O episódios como Devil Fucks the Goodness Out of Angel é uma fantasia cujo motivo pouco tem de latino, mas Osian e Moyea, os protagonistas, são o supra-sumo da latinidade.


A Jorge´s Gang também é uma produtora de filmes online que está começando agora mas com um trabalho promissor. Traz todas as variações do tipo latino, com predominância de negros, sem especificar o local de recrutamento das peças. O estilo é mais audaz, pesado, assustador porque a violência parece autêntica e não há como não relacionar, de alguma forma, as situações e os personagens da Jorge´s Gang com o que escreve o escritor colombiano Fernando Vallejo. O estilo da produtora é intencionalmente amador, profissionalismo dos modelos é de michê de rua e o sexo é bareback e sua variações. A filosofia do site resume-se a regra dos três F´s: Find ´Em (fisgue-os) Film ´Em (filme-os) e Fuck ´Em (foda-os). Os serviços destes sites custam em torno de 25 dólares americanos por 30 dias.


É comum que filmes façam paródias de outros filmes, de obras literárias ou de situações reais, como o excelente Revolución Sexual (All Words Video, 2004), dirigido por Rafael, uma versão pornô gay da revolução mexicana de 1912, com Viktor Perseo fazendo o papel de Pancho Villa. Mas ainda não havia ainda aparecido uma produtora que parodiasse outra no nome, fazendo o estilo inverso. A Belo Amigo apareceu recentemente com filmes distribuídos pela French Connection, um acinte à bem sucedida produtora tcheca Bel Ami e seus rapazes loiros e lindos. Outro acinte, desta vez aos monarquistas, é a marca da produtora, inspirada no brasão da dinastia Orleães-Bragança. Talvez em reconhecimento à Princesa Isabel, a produtora acabou homenageando toda a Casa Imperial Brasileira. A Belo Amigo colocou Florianópolis no circuito internacional dos filmes pornôs gays com a série Floripa Adventures (1 a 4), dirigida por Nelson Oliveira. A capital catarinense merecia filmes melhores mas os gays da ilha não perdem uma ocasião de jactar-se dessa série como um feito só superado no Brasil por São Paulo e Rio.


Muscle Fuckers é um filme sem malandragem que mostra nos detalhes a ascensão social dos menos favorecidos brasileiros. Lá estão as ostentações de prosperidade: a casa financiada, a textura acrílica berrando na parede, a piscina, os móveis e eletrodomésticos das Casas Bahia, cuecas novas, cordão no pescoço e o corpo bombado na academia em vez de no cais do porto e na roça. O sexo é bem comportado, pau no cu e na boca por merecimento pelo esforço da ascensão e não por vadiagem. O garanhão Junior Pavanello, Sylvio Arcanjo e outras beldades brasileiras estão no elenco. Dirty Kinky Stories, dirigido por Edfran Júnior, é outro filme da Belo Amigo sem malandragem. Os personagens são banhistas de Santos e São Vicente caçando na praia e se comendo em apartamentos ou nas pedras, onde há uma seqüencia difícil de realizar em lugar público, um trio que faz dupla penetração na praia. A safadeza sai do litoral e vai para o interior, Adriano Victor faz um peão boiadeiro, daqueles que se vê em Barretos, e toma no cu com Kauã Martins. Antes do filme acabar a ação retorna ao litoral para uma última trepadinha.


A Belo Amigo ainda fez dois filmes de favela: City of Boys 1 e 2, uma série de cinco filmes chamada Futebol e lançou ano passado Big Dick Club Brazil, com um elenco cheio de figuras conhecidas, dirigido por Manuel Suave, um diretor estreante que parece ter se especializado no gênero bareback, já tendo lançado Bareback Island (Street Corner Studios, 2007) – não confundir com The Big Dick Club (Falcon Studios, 2006), dirigido por Chris Steele. A série Capoeira, da French Connection, já está no 29º volume sendo, até hoje, a mais longa série do pornô gay mundial, 99% cafuçu, inteiramente rodada no Brasil e dirigido por Nelson de Oliveira, o mesmo de City of Boys 1 e 2, de 2004, dois filmes cheios de "mano", daquele tipo que deixa a muita gente êxtase ante a possibilidade de um contato imprevisto num bêco escuro de uma cidade grande. Os atores são versáteis e tesudos, com paus e bundas acima da média. O gay malandro é uma atualização da figura mitológica surgida no Rio e disseminada pelo país inteiro. É um filme com muitos tricotês porque essa gente não sabe agir sozinha. O roteiro tenta, com pouca aptidão, contar uma história sobre tráfico e consumo de drogas. Há traição e vingança entre os membros de uma gangue, tortura policial com muito sexo e só um morto. A favela aludida no título parece ser toda a cidade de São Paulo, a civilização brasileira ou todo o continente numa marginalidade sem fronteiras.


Na linha latino-marginal a Latino Fan Club lançou Criminal Behavior (2008), produzido e dirigido por Brian Brennan, cuja ação se passa numa penitenciária de Nova York comandada por um chefão chamado Warden Wankoff que agencia os prisioneiros em programas especiais de ressocialização. É um filme com um humor sutil, muito sexo, ativos selvagens e de pau grande e passivos voluntariosos. São prisioneiros muito bem comportados, perfeitos para casar. O super-dotado Macana Man e os médios-dotados Domino, Swift e Bori dão verdadeiro show. Pros & Cons (2008) é um filme dirigido por Rob Greco, distribuído pela Latino Fan Club e produzido pela Real Urban Men, especializada em negros, muitos deles imigrantes do Caribe, América Central e alhures. Libra é um passivo com pau grande, estilo e charme, dá na prisão e fora dela continua dando para sobreviver. Paris e Afrikan Prince são dois ativos que beiram a perfeição. Esses dois filmes ambientados em prisões e com presidiários vão fazer o gosto dos fãs da série Oz (HBO, 1997 – 2003).


Garotos de Favela (Clair Productions, 2008) mostra, de forma realista, a disposição do povo brasileiro já vista em outros filmes da mesma produtora (Puta!, La puta do Brazil, e Brazil Gonzo), já comentados aqui. Stéphane Moussu retorna com mais um filme de sexo na varanda com mulatos inzoneiros. A locação é a mesma de La puta do Brazil mas dessa vez não há a participação de Laurent, assim o elenco fica inteiramente verde-amarelo. Com a ausência de Yago sobrou espaço para que outros brasileiros brilhassem, mas eles não souberam aproveitar a oportunidade, a direção não deu espaço e não foi escrito nenhum papel cuja ação fosse além de uma seqüência de sexo. Inteiramente bareback, são transas que culminam com suculentas gozadas na boca e muito lambuza. Além do sexo, interessa notar como a favela se consolidou parte fundamental da cultura brasileira, quando deram vez ao morro ele não perdeu a vez. Embora o filme não seja ambientado nem exiba imagens de favela, os rapazes que atuaram nessa produção são tão autênticos que dispensam as declarações publicitárias que afirmam que o elenco vive na mais violenta favela carioca, Vigário Geral (quem terá sido esse vigário?). A estrela não é um ator em particular, mas a entidade popular dos homens da favela num filme que tem menos notas que o samba de uma nota só. Convinha também fazer filmes com filhinhos de papai da Zona Sul.


Os filmes da French Connection e da Clair Productions são fundos franceses bem colocados no Brasil. Essas produtoras fazem um papel intermediário entre as produções de menor e de maior orçamento, como os filmes Roman´s Holiday (Falcon Studios, 2008) e Skin Deep 1 e 2 (Sarava Productions, 2008) que com orçamento folgado patinam feio no regionalismo pornô gay.

Skin Deep 1, dirigido por Kristen Bjorn, é longo, previsível e maçante. Ele e sua seqüência, Skin Deep 2, totalizam 5 horas intermináveis de exibicionismo artificial. Nesses vinte anos de careira como diretor, iniciados aqui mesmo no Brasil com Carnival in Rio (1989), o estilo de Bjorn só mudou na contenção da incontinência galática. Seus modelos posam para a câmera de uma forma tão pouco espontânea que parecem figuras de cera do Museu de Madame Tussauds. O cenário é inteiramente casa grande em vez de senzala, parece interessar-se mais pela minoria do que pela maioria dos latinos. Uma villa senhorial e um vilão (Etienne Cendras), uma espécie de Papa Doc poderoso, são o núcleo do filme. Um local esquisito, como observa Daniel Marvin ao chegar na villa em busca de “Vaga para Caralho”. O vilão possui vários serviçais tão ou mais posudos que ele. Cada cena de sexo é composta como se fosse para Leónidas nas Termópilas (Jacques-Louis David, 1814). As frescuras continuam nos detalhes do figurino e da decoração que nem mesmo as fodas animadas de um ator como Ricardo Safado nem as peripécias do casal liberal Pedro Andreas e Daniel Marvin conseguem amenizar. A busca por um corpo perfeito leva ao desastre de incluir no elenco atores deformados como Jordi Casal e Alex Ribeiro. É um filme que mostra uma latinidade esnobe que não dá tesão.


Roman´s Holiday, dirigido por John Bruno, é um filme de viagem com seqüências de sexo intercaladas por cenas externas mostrando os pontos turísticos de Buenos Aires. Não fossem as gozadas que Roman Heart leva na cara este filme estaria reservado ao esquecimento. Entretanto não deixa de ser um filme da onda latina feito por uma produtora cujo estilo é qualquer um que a mantenha entre as maiores e melhores. No interesse de manter sua posição, a Falcon já fez filmes em outras locações exóticas, como o Leste da Europa, quando aquela parte do mundo produzia astros pornôs em escala industrial e já se arriscou também na Austrália quando houve a olimpíada de Sidney. Agora a produtora volta suas lentes para a América do Sul, não para o Brasil, onde talvez considere o país já demasiadamente explorado, mas para a eternamente donzela Argentina. O elenco de argentinos conta com reforço de dois brasileiros, Pedro Andreas e Daniel Marvin, a melhor coisa que Roman Heart encontrou na cidade, não por acaso essa é a última seqüência e a capa do filme, Roman levando vantagem em dobro.


O pornô latino não é apenas estilo, é fato. A realidade aqui é sacana em todos os sentidos e a sua representação é amena, chocante ou surreal. Esses filmes têm pouca história enquanto sua fonte tem muita história. Algumas prosaicas como as conversões ocorridas com os atores Diego De La Hoya e Julio Vidal. La Hoya, um portoriquenho, largou a formação de pastor pentecostal para ser ator pornô enquanto Julio Vidal (Giuliano Ferreira aka Juliano Ferraz), um brasileiro, fez o caminho inverso, criando a primeira XXX Church brasileira, o Ministério Brasa do Altar, no interior de São Paulo. Mas de todas as histórias a melhor certamente é essa sobre o triunfo do pornô gay onde todas as demais tentativas de integração latino-americanas fracassaram.


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